sexta-feira, 18 de maio de 2018

Senhor Veoide

Antropologia visual e arqueologia, em 18 de Maio de 2018.
Um dos últimos homens a vestir fato branco e capacete até 1983, em São Tomé e Príncipe.


Veoide Pires dos Santos.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Cartoon à moda de ilhéu


O maior desafio de comunicação de massas para qualquer artista é ser cartunista, onde as pessoas não sabem lidar com a crítica e o humor inteligente.

Geralmente, o cartoon apropria-se de temas muito mediáticos, polémicos e nocivos para a sociedade. Mas também aborda assuntos mais positivos que façam pedagogia para a instrução dos cidadãos no sentido de se habilitarem com maior civismo no meio em que vivem, respeitando o ambiente e o ecossistema inclusive.

Recebi o convite do meu grande amigo Elias Costa, o director do site “Interlusófona” para ser ilustrador ou cartoonista da “Interlusófona” num projecto de comunicação visual que pensei e aceitei logo como sendo muito interessante para o nosso panorama cultural e informativo. O factor determinante para a aceitação desta proposta foi a total liberdade para escolher os temas, desenhar e comunicar sem qualquer censura.

É verdade que em São Tomé e Príncipe, sempre se viveu num ambiente de permanente desconfiança e medo, outrora por causa dos regimes instalados no território que actualmente não se justifica. A instabilidade política associada ao factor económico e social surreal tem criado um universo fértil para a criatividade no domínio da ilustração e crítica plástica. Penso que todas as artes encontram na actualidade em que a ausência de um Estado de direito e responsável é tão vital como a água para a sobrevivência humana. Este não é um olhar dramático. A realidade é que é puramente dramática.

Não me interessa a política, mas é impossível um cidadão, por mais ignorante que seja, não se aperceba do caos socio político instalado num país tão pequeno com poucos habitantes onde todos teoricamente deveriam viver modestamente bem e tranquilo.

Este cenário apelativo para observação crítica no domínio artístico tem crescido desde a eleição do último presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Pois, vejamos os seguintes acontecimentos desde lá até ao presente momento:

- Eleição do último presidente da república
- Porto de águas profundas e o porto flutuante
- O derrame de combustível da EMAE na central eléctica de Sant’ Amaro
- A desordem parlamentar
- A sujidade, a desordem e a desorganização sócio-urbana
- O caso da fábrica ROSEMA…

Todos estes factos têm demonstrado a fraca capacidade dos santomenses se organizarem e governarem com eficiência o país.

Se por um lado os dirigentes políticos resultam da representação dum povo ignorante, burro, estúpido e corrupto, então os políticos só podem ser a sua imagem por falta de ambição de serem pessoas melhores com capacidade de mais fazerem para o seu povo.
A escolha editorial é a de fazer uma comunicação com um caracter mais pedagógico e um humor menos provocatório e o “Cartoon à moda do ilhéu” trata nesta fase experimental e inicial os assuntos próprios do arquipélago equatorial de atmosfera cinzenta.

Não existe no país uma grande tradição da prática do desenho fora do ambiente educativo; entretanto, com o aparecimento do Jornal Revolução, do Ministério de Informação no início do período pós-independência, na sua versão do jornal de parece publicado no Mercado Municipal, foi essencial para o desenvolvimento da ilustração para o público. Era importante que a comunicação também fosse feita com a ajuda de imagens para que a mensagem mais facilmente fosse percebida pelo público menos instruído e o jornal tornasse também mais atraente. O João Carlos, o Carlos Borboleta foram os ilustradores mais conhecidos.
O surgimento do jornal “O Parvo” trouxe-nos o cartoon mais expressivo com uma regularidade mais profissional. O Cagido Pina e o Litos Silva foram os artistas escolhidos para este projecto…

Poucos são os artistas santomenses que se dedicam com vigor a esta prática artística e de comunicação; por isso, achei interessante agarrar neste desafio para levar o cartoon ao ambiente de leitura dos santomenses e dos lusófonos com maior frequência, contribuindo para a formação de um público que aprenda a lidar melhor com a crítica e a respeitar a diversidade de opiniões.


terça-feira, 1 de maio de 2018

A Liberdade insular


São Tomé e Príncipe é um arquipélago do Golfo da Guiné, que para além de ser um território pequeno é a sua insularidade que constitui a outra barreira geográfica.

Oniricamente, o santomense só pode ir longe se souber navegar, logo a conquista da liberdade se manifesta com esperança quando este tem a iniciativa de construir a sua canoa.

Será que este povo sabe sonhar?

Durante vários séculos a população destas ilhas viveram oprimidos pelo regime colonial. O 25 de Abril de 1974 acelerou o processo de independência política juntamente com os outros países africanos e com os novos regimes instalados; mesmo com a democracia, a liberdade tem sido sistematicamente questionada (a liberdade do cidadão, a liberdade de expressão e a liberdade de circulação).

O poder governamental da actualidade, igualmente viciado pela cultura do asfixiamento das liberdades alheias, tem usado o seu poder para controlar não só as estruturas do estado, mas também criar um clima de intimidação na qual as pessoas sentem medo de falarem com à-vontade alguns assuntos que incomodam os representantes do poder político nacional. (Os detentores de cargos públicos hierárquicos superiores exibem com luxo o seu poderio institucional e social).

As deficientes condições económicas em que a maior parte dos santomenses vivem, a dependência dos serviços do estado associado aos diversos privilégios sociais, são alguns dos motivos de grande jogo de subserviência, clientelismo, amiguismo e nepotismo instalados genericamente nesta sociedade que obriga todos a se calarem com o medo de perderem os respectivos benefícios ou os dos seus familiares…
Algumas vozes se levantam. Fala-se em segredos, em cochichos; mas nunca de forma assumida.
É difícil estar-se confortável com as pessoas naquele meio. Muitos parecem autênticos bufos porque comportam-se como tal. E as novas tecnologias facilitam muito. Em privado, gravam-se conversas sem o consentimento do interlocutor com o objectivo de chantagem ou uso equiparado num tempo oportuno. Até os assuntos de estado saem à praça pública como se tratasse de sendas domésticas.

Bem, o paradoxo da liberdade e a falta dela parece andarem paralelas. Se por um lado fala-se demais sobre assuntos do estado, da justiça, privados, etc. por outro existe um medo institucionalizado na qual o silêncio prevalece de forma medonha.
Em 2015 o presidente do sindicato dos jornalistas se pronunciou sobre o assunto afirmando que a comunicação social não tinha ferramentas profissionais para exercer a liberdade jornalística com imparcialidade.
O que eu questiono é como pode um profissional maldizer do seu patrão?
E os jornalistas privados podem criticar o estado nos seus males feitos governamentais?
Se o estado é o maior cliente de quase todos os serviços no país, logo quase todos os indivíduos dependem desta estrutura para a sua sobrevivência.
Não há outra alternativa. O mar faz desta terra uma autêntica cadeia de exuberante beleza natural. A população não pode sair deste país que a asfixia.
Até os artistas plásticos, castigados pela vida miserável, lutam entre si para encontrarem saídas para se afirmarem como humanos.

Não há emprego no país. Os artistas não conseguem depender da sua actividade criativa para o seu autossustento e o da sua família. Esta classe profissional pouco usa a subtileza da sua linguagem estética e de comunicação para abordar assuntos de maior relevância da actualidade. Será por medo? Compreendo a sensibilidade da situação, mas não devemos sentirmo-nos ameaçados pelo poder politico por expormos as nossas preocupações críticas sobre o sistema. Caso contrário estamos instalados num regime cuja a liberdade do cidadão está posta em causa e até a liberdade criativa. A má convivência política que divide os santomenses, também tem afectado os artistas e é a causa de todo o mau ambiente entre os santomenses…

Podemos saber o que fazer para alterar esta realidade, mas o mais difícil é a sua materialização por causa de condicionalismos e dependências de diversos factores no plano económico. Mas há muito que se pode fazer sem se depender do maldito recurso financeiro da qual o país depende do exterior.

Pode-se conquistar a liberdade sem o dinheiro?

Enquanto o ser humano luta pela conquista da comida é impossível trabalhar para o desenvolvimento.
Importa-me nesta reflexão, não discutir a liberdade sob o ponto de vista conceptual, mas sim, olhar para o exercício da liberdade e entender como o mesmo é vivido na nossa sociedade com pragmatismo. A sua prática nos sectores públicos do estado, no privado e na sociedade santomense em geral.

Os santomenses entendem que a liberdade ainda pode ser vivida com maior plenitude por isso há muitos aspectos que podem ser melhorados na nossa democracia.

No meio artístico, a arte não pode ser silenciada porque, assim, ela morre.
A arte nasceu na liberdade, com a liberdade e assim deve continuar. Tem o dever de exercer a pedagogia e aquisição deste bem precioso da humanidade para uma boa convivência entre os seres humanos.

Viva a LIBERDADE. Esta parece estar no mar insular ou para além do seu horizonte.

domingo, 22 de abril de 2018

A Solidariedade entre santomenses em Portugal


Todos os santomenses se reconhecem como pessoas más entre si. Uma prática que se diz ser próprio de países pequenos e insulares. Salvo excepções. Mas são pessoas muito hospitaleiras e generosas para os que vêm do estrangeiro.

Em Portugal, a população santomense está distribuída com dispersão neste país, embora exista alguma concentração desta população em número expressivo nalgumas localidades,

resultante de fluxos imigratórios condicionados por factores de afinidades e recepção autênticas dos núcleos migratórios.

Se a interajuda existe entre a população inicialmente residente que acolhe os que chegam mais recentemente, quanto mais tempo residem junto a essa comunidade de origem insular, mais negativos da sua prática cultural e social. Por exemplo a clara manifestação do problemas e complexos vão se revelando transportando hábitos e comportamentos

santomense e melhor se integrar na comunidade portuguesa. O que nem sempre seu desejo de estar longe dos santomense. Vontade clara de fugir da comunidade acontece.

Feito este enquadramento, mais fácilmente percebemos a necessidade da comunidade santomense se organizar nesta sociedade acolhedora.

Nos últimos vinte anos, vimos diversas associações e grupos informais a nascerem em respostas aos diversos problemas e necessidades encontradas em Portugal. Necessidades

culturais, profissionais, religiosos, de residência e integração social entre outros permitiu uma resposta de pessoas com iniciativas para encontrarem soluções para esses problemas encontrados.

Entre pessoas de bondade e muito generosa, encontramos gente de carácter duvidoso que procura tirar vantagem sobre os males e aflições alheias em prol da sua projecção individual.

É por esta visão é que lemos com muita clareza a razão de não encontrarmos muitas organizações santomenses com um trabalho bom e reconhecimento efectivo e especializado em Portugal. (Em caso de dúvida nesta leitura, investiguem as associações com trabalho efectivo que se tenham resistido ao longo do tempo com vigor em Portugal. E daquelas que se mantêm, qual é a estrutura funcional da sua equipa laboral? Deixo aqui este desafio.)

Na minha modesta opinião, num ambiente desta natureza, a solidariedade é um luxo social em que quase ninguém está interessado a ajudar os necessitados, a não ser o simples objectivo de promover a sua imagem ou defender outros tipos de interesses.

A medição de força e disputa camuflada de poder nas organizações tem sido um factor de retrocesso.

Os santomenses na sua génese não são solidários. Sempre viveram numa sociedade hierarquizada que tem servido de escola de classes e famílias destacadas do país em todas as épocas da história.

A pobreza económica associada a pobreza cultural e espiritual faz deste povo cada vez mais miserável.

Nada está perdido. No mundo em que vivemos, é sempre possível melhorarmos enquanto seres humanos capazes de usar as suas inteligência e capacidade ao benefício dos seus próximos e da humanidade.
Podemos ser verdadeiramente mais solidários e apoiarmo-nos mutuamente para um crescimento humano mais nobre.

Se em Portugal a nossa população é reconhecida como constituída por gente de uma bondade extraordinária, porque não usarmos essa qualidade para melhorarmos o nosso
exercício de cidadania e darmos mais atenção igualmente aos nossos irmãos?

Porque nós, os santomenses, somos pessoas más e que tanto mal desejamos para os nossos concidadãos?

O real desafio nosso, é contrariarmos todas as chagas sociais que preenchem as nossas mentes de forma doentia.

Maldita pobreza.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

A Paisagem que não sabemos cuidar


A paisagem não é um elemento isolado que funciona autonomamente. É a ligação entre diversos elementos que compõem o espaço e formam um panorama que é visualizada por todos.
O seu conceito nos remete para o entendimento visual, sensorial de um determinado local, pela qual percebemos os seus elementos constituintes e deles usufruímos.

Então, se o espaço é a paisagem, logo é neste que a vida é criada e toda a actividade humana e animal se regista. É na superfície terrestre que as sociedades se formam e se organizam por isso ao longo da história, muitos dos factos naturais e da actividade humana deixam marcas de transformação sobre a terra, o que deixam as respectivas marcas de mudança perceptíveis aos olhos humanos. 
Assim, a paisagem é um espaço dinâmico em função do tempo, quando procuramos perceber o seu amplo conceito.
As paisagens podem ser naturais, culturais, humanizadas ou artificiais. São artificiais quanto o espaço natural é transformado pelo homem. As cidades, vilas, aldeamentos, jardins ou propriedades agrícolas são alguns exemplos de transformação do espaço natural em artificial que consequentemente modifica a paisagem natural.

Estas duas ilhas são autênticos jardins botânicos sobre o oceano Atlântico equatorial!
São Tomé e Príncipe, com mais de trinta e um milhões de anos, viram a sua geologia e a sua paisagem a se transformar ao longo da sua história como território, mesmo depois da colonização até ao presente momento. A presença humana e a influência dos agentes geológicos, climáticos, geofísicos ou químicos são os responsáveis por essa transformação. Falo da transformação natural da sua própria existência numa visão positiva do ciclo e dinâmica natural.

Até, porque depois da independência política em 1975, os seus ocupantes nunca souberam cuidar do riquíssimo património natural em sua posse.

O paisagismo é uma área técnica e científica que faz falta ao país. Se a natureza e a paisagem são recursos potenciais que promovem o turismo como actividade sustentável para o desenvolvimento do país, porque não reunir especialistas que trabalhem ao alcance deste objectivo?

São Tomé e Príncipe são duas ilhas do Golfo da Guiné com uma flora característica da região equatorial, com um ecossistema sensível, muito arborizada que oferece ao observador uma ideia de que a paisagem natural parece uma mata com uma beleza que só se pode ver nos sonhos pela riqueza e variedade elementos que nela se encontram. Sendo um território de geologia vulcânica rodeado de mar azul prateado, a sua costa é recortada por pequenas praias de arreias com cores e características muito diversas que vão do areal amarelo dourado, branco, preto vulcão.

Pensar nessas ilhas do Equador, é pensar sempre nelas como uma pérola verdejante numa gama muito grande de verdes que se aproximam ao azul quanto mais longe estiver dos nossos olhos, que cabe nas nossas mãos.

Só se pode ter toda esta beleza se soubermos estimar e cuidar dela.
A data em que se convencionou comemorar o dia do património e dos sítios, 18 de Abril, eu sinto-me particularmente triste relativamente a São Tomé e Príncipe.
Os santomenses não sabem cuidar das suas ilhas. Talvez os habitantes da ilha do Príncipe seja excepção, com o seu programa de desenvolvimento sustentável que mereceu o reconhecimento do património natural da humanidade. Enquanto que os residentes da ilha de São Tomé fazem precisamente o contrário: destroem a sua bela natureza com os fundamentos de que são pobres economicamente. Este é um pensamento e uma atitude infeliz.

Quase nada se tem feito até então com visibilidade para a salvaguardo do que ainda existe.
Penso no presente momento como é alarmante na ilha de São Tomé:
1 – A extracção exagerada de inertes geológicos nas costas das ilhas e a má gestão desses recursos ao longo dos últimos 25 anos que têm descaracterizado e empobrecido a paisagem da orla marítima.
2 – O abate indiscriminado das árvores seculares no interior do ôbô.
3 – A falta de capacidade dos santomenses não travarem a degradação dos edifícios e infra-estruturas das antigas roças coloniais, requalifica-las dando-as novas utilidades.
4 – Observando as ilhas como um jardim, verificamos a falta de mais árvores de sombra na cidade e a necessidade de se replantar mais coqueiros na marginal para renovar as plantas e devolver à paisagem o verde cuidado que a nossa costa urbana muito maltratada pelos seus homens.

Os santomenses são filhos de escravos, mas também são filhos de patrões. Herdaram na sua genética algo de bom dos seus antepassados, por isso acredito que eles são capazes de alterar para melhor tudo o que têm feito de mal na paisagem.
Ainda há esperança de serem salvas as ruinas se a floresta não se antecipar em apoderar do que resta ou se as mãos humanas criminosas não destruírem o pouco que ainda resta nas ilhas.

O nosso éden Atlântico um dia será um lugar perfeito para satisfazer o orgulho santomense.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Ocidental Africano

“Ocidental Africano” é o referente da mais recente exposição do artista plástico Manuel Xavier realizada na galeria da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, na Póvoa do Varzim, que propõe analisar as vivências e memórias de duas realidades geográficas diferentes:
A cultura europeia e o modo de viver africano.

Xavier é natural da ilha do Príncipe, terra do golfo da Guiné onde nasceu em 1947, fez a sua infância e após os seus estudos liceais viaja para Portugal. Na cidade do Porto forma-se em belas artes, lá decide residir e trabalhar como professor e artista plástico.

A história de vida que começa com viagem, faz deste artista um homem aventureiro e viajante. O seu gosto por viagem, leva-lhe com muita frequência a visitar muitas partes do mundo que enriquecem o seu universo interior, consequentemente influencia o seu pensamento e todo o seu trabalho artístico.

Mas nunca se esqueceu da sua terra natal, São Tomé e Príncipe.

Depois de muitos anos a viver no Porto, viaja para as ilhas do falcão e do papagaio, embebendo de novo valores que tinham ficado na sua memória. Esta experiência de contacto renovado com a sua terra de origem e a aproximação à comunidade santomense em Portugal nos últimos tempos influencia de forma muito vincada os temas das suas pinturas.
As danças clássicas europeias e as tradicionais santomenses dividem a presente exposição em dois grupos de trabalhos diferente, sendo a escultura refletindo mais visivelmente a sua visão do pensamento ocidental e as pinturas rebuscando a ambiência do quotidiano santomense.

Nesta exposição vemos pintura, escultura, Portugal e São Tomé e Príncipe, numa visão retrospectiva em que o artista impõe a sua identidade cultural matriz, exibindo no evento com as tradicionais das suas ilhas, executadas pelos estudantes santomenses no Porto integrados no grupo cultural da AESTPP (Associação de Estudantes Santomenses no Porto).

Com uma paleta de cores muito própria, ele compõe cenas do espaço popular insular, em ambiente doméstico, numa figuração mais visível, opondo à abstracção linear mais comum nas suas pinturas. O que novidade para o observador que acompanha o seu trabalho artístico. Uma combinação muito bem conseguida entre as linhas e as manchas sugeridas pelas pinceladas sobre a tela. Com ritmo e sugestão de movimento ora frenético, ora mais cadenciado indica visivelmente numa cenografia típica a puita e a ússua, ambas, respectivamente, danças típicas nacionais. Por outro lado as esculturas harmoniosamente modeladas em cerâmica, mantêm as linhas dinâmicas igualmente harmoniosas das danças em poses clássicas obrigando as pessoas a fixarem o seu olhar sem se distraírem.

Dois elementos de grande força dominam as suas composições ou esculturas: o peixe e as pessoas. A seguir a estes é que se reconhece ou se descobre as paisagens. Por detrás de cada mancha e linhas vai se descobrindo novos elementos ou cada vez que se observa os seus quadros parece que se faz nova descoberta arqueológica. É como se fizesse uma arqueologia mental, visual e da memória. Esta forma de comunicar do Manuel Xavier, faz dele um grande artista com grande potencialidade e capacidade para criar, inovar e revelar o mundo fantástico das artes.

A gama cromática de matriz quente, deve ser da influência lumínica africana que nada tem a ver com a estável predominância atmosfera cinzenta da cidade do Porto (Uma ótima luz que favorece o pintor no atelier pelo facto da sua intensidade ser constante e estável). As dominantes verdes, azuis e os avermelhados, em médio contraste, realçam da superfície e surpreendem o observador.

Com a representação dessas danças e movimentos plásticos, o Xavier nos convida para uma viagem para mundos imaginários sugerido pelas susão das realidades euroafricanas da sua arte habilmente elaborada pelas suas mãos a partir do barro e da tinta.

domingo, 1 de abril de 2018

O Silêncio dos Artistas Santomenses


Desde 1990 que em São Tomé e Príncipe vive-se no regime democrático, num ambiente onde se convive relativamente bem com o direito a liberdade de expressão, mas que na realidade a relação entre os que têm uma opinião crítica oposta ao exercício dos sucessivos governos em santomenses não são positivas na actualidade.
As vozes das diásporas deste arquipélago, sobretudo dos que vivem em Portugal e em Inglaterra têm sido muito actuantes nas redes sociais opondo as tomadas de decisões politicas erradas por parte do governo.

Podemos afirmar que quase todas as pessoas duma forma em geral, sem se diferenciar nas classes sociais e profissionais, manifestam as suas opiniões sociopolíticas excepto os profissionais das áreas artísticas, nomeadamente os artistas plásticos.

Porquê?

Porque é que os artistas não falam publicamente das suas ideias políticas? Porque é que eles sentem medo de abordar questões que são políticas? Opor às más politicas e tomadas de decisões erradas do governo significa estar contra a classe governamental? Porque não existe programas radiofónicos e televisivos nas estações de comunicação do estado?

Reparem:
No universo dos artistas santomenses, quais e quantos são os que participam em debates públicos e que se conheça as respectivas presenças em público ou nas redes sociais?
As redes sociais estão na moda e são o veiculo eficaz de divulgação dos cidadãos para falarem de ideias próprias. Com esta oportunidade de expressão a classe artística abstém-se de opinião política.

Numa sociedade onde a política é vivida com imensa intensidade esta classe não se deixa influenciar e nem entra neste jogo que tem dividido as famílias santomenses criando uma realidade de novos cegos e oportunistas para sobreviverem num país onde a comida está em primeiro lugar e a seguir a imagem de (falsa) riqueza.

Porque os artistas ainda não entraram neste jogo?

A resposta a esta e muitas outras questões, primeiramente está na sensibilidade e lucidez criativa que posiciona estes indivíduos num universo distante da maioria, por lado. Mas por outro a sobrevivência quotidiana e o medo de represálias que possam influenciar nos respectivos sectores onde trabalham e ganham o pouco para o sustento das suas famílias são os principais motivos do silêncio dos artistas.

Assim, penso que em quase todos os regimes políticos no país os artistas na sua maioria sempre se silenciaram publicamente relativamente às questões políticas.
Não é este um bom motivo para questionarmos seriamente sobre a verdadeira liberdade de expressão quando sabemos que as pessoas vivem com medo de se pronunciarem ou debaterem os seus ideais políticos e terem as suas próprias opiniões sobre a actuação dos governos do país?

 Os artistas plásticos, pintam, esculpem, fazem performances e instalações, se posicionando com a sabedoria que as próprias linguagens e subtilezas da arte proporcionam para comunicarem com o púbico através das obras de arte.

O silêncio continua e continuará enquanto o medo insistir-se em preencher a mente dos artistas, mas não os impedirão de continuar a falar por meio da linguagem artística.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Festin 2018


Festin é o festival itinerário de cinema lusófono que acontece anualmente em Lisboa para além de se deslocar para qualquer outra parte dos territórios onde se fala a língua portuguesa, com o calendário previamente agendado.
Já começa a ser uma presença no Festin a participação de São Tomé e Príncipe no festival de cinema lusófono.
No presente ano a ilha verde do equador participa com filme de três realizadores e com o realce para a primeira participação feminina no festival. Kátia Aragão só pela sua presença já faz história no Festin e na cinematografia santomense. O Nilton Medeiros e Hamilton Trindade são os outros dois realizadores que completam a participação santomense neste evento.
Há tantas necessidades em São Tomé e Príncipe que tudo torna-se prioritário e o audiovisual não é excepção. Nesta área em todas as suas categorias, que vão das curtas, documentários, animação aos longas metragens está quase tudo por fazer relativamente a conteúdos que caracterizam a identidade, cultura e a vida dos santomenses em geral. E os três filmes que participaram neste festival contribuem (neste sentido) para melhorar a produção de filmes nacionais e elevar o seu reconhecimento no espaço lusófono e contribuir para documentar a história comum desses países, como é o caso do trabalho do realizador Nilton Medeiros e a sua equipa com a reportagem premiada “Os Serviçais”.

“Os Serviçais” é um documentário que retrata a vida dos serviçais nas roças de São Tomé e Príncipe. Baseia-se num conjunto de entrevistas aos contratados e outros protagonistas que testemunharam este facto histórico e outros que opinaram sobre os mesmos. 



“Mina Kiá” realizado pela Kátia Aragão é uma curta metragem ficcionada que conta a história de uma menina pobre acolhida por uma família bem posicionada socialmente. 
“Sonhos do Equador” é um documentário que fala da motivação dos jovens santomenses para ultrapassarem as diversas barreiras socioeconómicas do país para atingirem o sucesso pessoal e profissional. É uma crítica ao sistema do estado nacional com inercia/incapacidade até ao presente momento em encontrar soluções para os diversos problemas que a juventude deste pequeno país enfrenta. …


O Hamilton Trindade apresentou uma reportagem sobre o sonho actual dos jovens santomenses e mostrou o que pensam os jovens que conseguiram ultrapassar as barreiras socioeconómicas para atingirem o sucesso no arquipélago.
...



Festim é um palco privilegiado que serve de estímulo para que os realizadores nacionais produzam mais e melhor e aproveitem esta montra para darem saltos para outros festivais internacionais.
Exige-se qualidade cada vez mais alta para que São Tomé e Príncipe esteja sempre representado no mais alto nível.

O Tabernáculo

Lisboa é uma cidade aberta cada vez mais ao mundo, onde as pessoas se cruzam no conforto dos diversos sítios da sua urbanidade acolhedora. Os bares são um dos exemplos muito carismáticos que caracterizam a urbe lisboeta e onde as pessoas se predispõem para o diálogo espontâneo.

Neste contexto, a Plataforma Cafuka escolheu o Tabernáculo como o ponto de encontro para se comunicar através da arte e dialogar sobre cultura urbana com destaque para as temáticas mais oportunas da actualidade da cidade cosmopolita.
O Tabernáculo é um espaço urbano de referência lisboeta para os conhecedores da cidade. Para nós, simbolicamente, é uma caverna de cultura, onde o encontro com a arte é surpreendente e apelativo para a redescoberta e o envolvimento com o espaço e as pessoas. E dá nome a este projecto de arte.

Tudo aqui surpreende!

Em estilo vintage, o Tabernáculo se compõe em secções espaciais distintas em que a sala expositiva se posiciona ao fundo da sala como o lugar menos movimentado. O ideal para vesti-lo de arte e o melhor para uma conversa mais tranquila, animada ao som gravado ou ao vivo na campainha de um bom vinho...

É um desafio enormíssimo criar-se um projecto expositivo para um espaço não especializado e com as características do Tabernáculo. Esta dificuldade é a maior motivação para os artistas deste grupo trabalharem numa programação e uma estética que funcione para o efeito. Nesta iniciativa, o propósito não é somente colocar as telas na parede. É, sim, montar um ambiente que desperte atenção e provoque motivos para conversas sobre a arte e a cultura.

Na perspectiva de levar a arte de encontro às pessoas num espaço social em que elas não esperam observar pinturas, é um propósito para elevar ou eleger outros lugares alternativos a espaços de cultura de qualidade. Lisboa é uma cidade com muitas ofertas, mas ainda está longe de ter espaços para todos os criadores que nela habitam. Por isso é que o desafio para criar propostas alternativas continua a ser necessária e emergente.
Neste projecto participam os artistas plásticos de origem santomenses que procuram este diálogo discreto com um público inesperado. Sem provocarem grandes ecos nas plataformas de divulgação convencional.

A arte está no Tabernáculo para ser descoberta tal e qual como se fossemos ao interior numa gruta ou caverna para descobrirmos algo de bom. Algo de belo para fruirmos.
Entre março e junho de 2018 o Alex-Keller Fernandes, o Estanislau Neto, o Eduardo Malé, Eva Tomé, Ismael Sequeira, o José Chambel e Valdemar Dória são os artistas que lá estão para surpreender o público com os seus trabalhos.



Kussy | Entre os Murais e o Corpo Humano


Artista contemporâneo referenciado na atualidade  artística angolana como um dos mais competentes quadros humanos promissores com potencialidades para fazer crescer, formar e contribuir para melhorar o olhar artístico da juventude do seu país.

Paulo Kussy nasceu em Angola em 1978 e muito cedo viajou para Portugal com os seus familiares onde estudou em todos os ciclos de ensino, concluiu a sua formação académica em artes plásticas pintura e especializou-se em anatomia artística pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

Como artista, o Kussy inicia-se pelo desenho, encontrando na expressão da pintura graffiti e murais a linguagem para se comunicar com o mundo numa atitude de alguma irreverência da própria juventude, por influências doutros jovens que gostavam igualmente da adrenalina e o espírito autêntico reconhecido desta arte das paredes urbanas e suburbanas da grande região Lisboeta. É em Oeiras e arredores que o artista encontrou o espaço para explorar as pinturas murais, conquistando territórios assinados com propriedade de combatente urbano assumido como Yssuk. Este nome é o elemento mais relevante na sua fase inicial que compõe muitas das variantes compositivas dos painéis pintados por Paulo.



Quanto mais pintava, mais assumia a sua condição de artista plástico e gradualmente vai deixando de ser Yssuk para assumir a sua real identidade como Kussy, enquanto homem livre e aberto para o mundo.
Esta condição de sujeito universal, sempre preocupado com a espécie humana e a sua dimensão no universo, vai se refletir nos seus futuros trabalhos como artista plástico. Desenhador rigoroso, conhecedor da história das artes e admirador da beleza humana, o Paulo Kussy escolhe a figura humana como o elemento mais importante nas suas composições tal como os artistas mais clássicos o fizeram durante toda a história das artes. O seu interesse pelo conhecimento do classicismo e pela anatomia humana assumem a transcendência do seu olhar criativo assim como o rigor geométrico na idealização e construção espacial elevam-se em jogos oníricos, representados num ambiente erótico muito peculiar deste artista angolano.

O que é muito interessante questionar-se também nas suas telas (e em todo o seu trabalho) é ausência de elementos iconográficos e registos conceptuais que o rementem para uma certa espacialidade africana ou particularmente angolana. O seu elevado conhecimento literário e a influência da cultura europeia presenteiam o observador, estimulando-o para uma contemplação mais universal, como acima anotei. Não é mais importante fazer da identidade angolana a sua abordagem temática. É fundamental, sim, refletir  com maior amplitude para além do território continental africano onde todos os seres humanos se cruzam, construindo uma relação mais harmoniosa entre si distanciando-se de todos os conflitos que têm caracterizado as sociedades modernas de todos os continentes. Afinal de contas, os seres humanos vivem e enfrentam problemas semelhantes na esfera terrestre. Daí a necessidade de observar, estudar, analisar questões comuns da humanidade que reflitam  e elevam o pensamento e atitude humana para um nível superior.
As suas figuras desenhadas sempre em clássico nu de poses exaustivamente estudadas até ao mais ínfimo detalhe de elementos musculares, ao contrário do nosso entendimento básico, é uma representação que coloca o sujeito no seu no plano ideal. Um plano em que a beleza anatómica modela o espaço social de uma arquitetura edificada por idealismo mais puro da mente das pessoas.

São essas premissas que nos ajudam a ler e entender muitas das pinturas deste artista que herdou os valores do classicismo e bem os trouxe para a contemporaneidade.
Tanto nas pinturas murais como nas telas a grande escala condicionam a elaboração estruturada da composição de cenas imaginadas ou recriadas a partir de apropriação de outras obras conhecidas da história de arte criando ambientes novos para impressionar e satisfazer a fruição do observador.

Constatamos as preocupações e a necessidade de comunicação do Kussy ao analisarmos os seus projetos artísticos dos últimos quinze anos. “ANATOMILIAS I”, “ANATOMILIAS II”, “Fitas Magnéticas”, “Despindo a Pele” e outros ensaios são exemplos conseguidos de crescimento e alcance de maturidade criativa fazendo do Paulo Kussy um artista que experimenta a poesia pintada num registo apelativo para qualquer escritor admirador da narrativa muito descritiva. Na simplicidade como apresenta as suas ideias aponta elementos de elevada curiosidade contemplativa fertilizando a mente de qualquer observador. Há sempre detalhes por descobrir cada vez que se observa as suas pinturas. Entre um fundo liso ou de paisagem urbana, as figuras despidas que nelas habitam quase visualmente construídas como máquinas cuja dinâmica compositiva espelha ideias dum mundo que só habita na mente deste criador.

Do conjunto das suas obras de uma policromia muito intensa em contrastes quentes e frios experimentamos no exercício do olhar a necessidade de preenchermos os espaços vazios ou preenchidos das suas telas como se o próprio observador estivesse dentro da composição.

Convida-nos a entrar mentalmente na cena!
As grandes escadas destas composições permitem-nos participar na alegoria encenada pelos seus habitantes pintados em linhas graficamente expressivas para conquistar a espacialidade cenográfica…

Assim, tanto o Yssuk como o Kussy, ambos se comunicam com o mundo pela monumentalidade dos seus painéis ou a entrega gingante da sua espiritualidade para aproximar-se da essência que ambiciona estar mais próximo do poder divino: o poder da criação.




Fonte: Plataforma Cafuka
http://cafuka.com/paulo-kussy

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Um Caminho para os Afectos


São Tomé e Príncipe é uma terra santa.

O Presidente da república Portuguesa, prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa visitou o belíssimo arquipélago do Equador em plena época chuvosa quando os Ossobôs pararam os seus cantos para que o ôbô parasse a chuva. A natureza os escutou e Deus abençoou todos os santomenses e visitantes nesses dias de excepção, numa época em que as chuvas não deram tréguas. A natureza e as suas manifestações de alteração climática têm trazido a chuva que ninguém deseja de tão torrenciais que são e com cheias…
A tão esperada visita de sua Ex. cia o presidente de Portugal à São Tomé e Príncipe foi a melhor altura para inaugurar o maior empreendimento artístico e cultural do país: a CACAU – Casa da Cultura Artes e Utopias.



CACAU é um espaço de qualidade. A melhor infra-estrutura de arte e cultura que se tem no país que permite desafios tão grandes aos artistas nacionais e que os deixam preparados para se exibirem com orgulho em qualquer parte do mundo. (Os nobres convidados de Portugal depois desta visita presidencial, acredito que saíram do país com uma boa impressão das potencialidades artísticas encontradas no país. O investimento e a sua correta gestão é assunto para outra matéria).
Simpaticamente recebidos nesta casa com afectos, o presidente de Portugal e o Primeiro Ministro de São Tomé e Príncipe inaugurara a presente exposição e a reabertura da CACAU.

Depois de completamente remodelada e reconstruída a cobertura do edifício que originalmente funcionou como gare ferroviária e depois como estaleiro de obras pública, o centro cultural acolheu para a nobre ocasião no dia vinte e um de fevereiro do presente ano, uma exposição de artes plásticas, intitulada “Um Caminho para os afectos”. Que contou com com a participação de Adilson Castro, Olavo Amado, Geane Castro, Catita Dias, Cesaltino da Fonseca, Kwame Sousa, Seynni Gadhiaga e Soli Sicê.
Quer o tema desta exposição sugerir a criação de um afectividade com Portugal através deste simpático acolhimento a comitiva presidencial na casa das artes ou é esta recepção uma tentativa de apelar a todos que os avectos são valores fundamentais na relação humana, que está em falta particularmente na sociedade santomense…?
Esta exposição colectiva, montada quase numa linguagem minimalista, fala por si sobre esta tendência que a arquitectura do espaço impõe. As grandes áreas expositivas e as escalas das pinturas convidam o observador ao silêncio. Estas parecem muito pequenas para o tamanho do espaço e a distância entre as telas o que exige uma maior aproximação para a melhor leitura dos objectos de arte. Cada obra tinha espaço mais do que o suficiente para se respirar e comunicar-se com autonomia.



Integrado no interior na arquitectura do edifício, um muro de vinte e cinco metros de comprimento por três de altura, serviu de suporte para uma pintura mural intitulada “Muro dos Afectos”, pintado por Kwame Sousa torna-se a grande atracção do centro cultural.
A composição deste grande painel, contrariando a horizontalidade da orientação do suporte, o Artista pinta a totalidade das figuras representadas em linhas de força verticais, mantendo um ritmo estrutural constante alterado somente com apontamentos de algumas tonalidades mais quentes, sobreposições de desenhos, manchas e pinceladas que mudam de orientação espacial dando mais dinâmica ao painel.

As figuras representadas são homens, mulheres, todos no plano frontal pouco informa-nos sobre a identidade antropológica ou acção no espaço em que se situam. O artista, talvez, faz o registo de uma atmosfera psicológica ou retrato do estado emocional que remete-nos para o estado de relação de convivência entre as pessoas no seu universo social apelando à necessidade da criação efectiva de laços de amizade e afectividade entre os seres humanos.



As figuras muito firmes na sua verticalidade, simbolizam a timidez e a dificuldade dum quotidiano caracterizado por degradação de relações humanas e seus valores…
Entre a figuração e a abstracção, a riqueza deste painel é a dimensão da sua escala e o ensaio compositivo construído maioritariamente com figuras humanas e a ausência de referências espaciais; ou seja, não se observa a construção perspéctica e há uma tentativa simplesmente de fazer esta abordagem através da sobreposição de elementos com a mesma dimensão.

O grafismo e a sobreposição de elementos com uma variação cromática trinchadas ao longo da pintura, faz deste painel um objecto de contemplação obrigatória para uma fruição mais satisfatória do sujeito que observa esta obra. Ninguém consegue ficar indiferente.
O movimento que sentimos ao contemplarmos este mural marca o espaço do centro cultural, que é muito amplo, frio e monótono.

A acidez cromática e compositiva deste painel, sem dúvida alguma, trouxe mais calor, mais energia para o espaço e convidam as pessoas para o seu interior para um convívio mais próximos entre as pessoas.