sexta-feira, 8 de outubro de 2004

A Manifestação do Azul

É difícil, para quem viaja, lá do alto da atmosfera, ao se aproximar das ilhas de São Tomé e Príncipe, não se aperceber da dimensão da beleza natural daquelas pérolas do equador. A Natureza no seu todo desperta sentimentos sublimes que ninguém fica indiferente. Foi o que me aconteceu nesta última viagem, durante a estação da gravana, em que o céu se exibia em tons variados de cinzento, o azul aparecia em grande tenção cromática e luminosa contrastando com as medonhas nuvens cor de cinza. 

Este despertar foi o começo para uma temática que resultou num projecto de pintura para a presente exposição individual. O projecto de pintura, não se limitando a uma visão contemplativa da paisagem, pretendeu analisar a crueza/pureza do corpo e do Homem santomense na sua forma de estar no trabalho, no lazer e vida quotidiana. Na constante procura de sobrevivência, na ausência de vários factores que possibilitem uma vida mais digna à maior parte da população, restam-lhes a própria vida encarnada em corpos esbeltamente esculpidos pela mãe natureza. Facilmente diante de problemas e acontecimentos mais interessantes, o instinto nato condicionado pela forma particular de estar na vida com falta de esperança neste pequeno universo dominado pela pobreza material, o equilíbrio psicológico é encontrado e compensado pela relação humana e pelo espectáculo paisagístico e de muitos outros fenómenos naturais… 

A nudez física e espiritual surgem como o resultado da ausência de “quase tudo”…

Encontro aqui uma certa estética da pobreza. Esta estética pictórica explora o universo da pobreza materialista e demonstra como a natureza envolvente pode fazer-nos recuperar a sanidade psicológica e a vida mental para alimentarmos a esperança para uma vida mais digna na sociedade em que vivemos.  Neste trabalho, a crítica está orientado para o massacre consumista, a corrupção moral e sócio-materialista e apela para que olhemos humanamente para a nossa essência humana.  

No domínio político, já houve uma segunda mudança para um regime pluripartidário onde teoricamente todos podem se exprimir e dar o seu contributo para um desenvolvimento relativo do país. Entretanto, ainda verificamos o desinteresse do ”Poder” para satisfazer de forma construtiva a razão da nossa existência como uma nação construída por seres humanos. O “selvagismo” é a prática dos que “podem”, tudo fazerem para a instalação da miséria na classe maioritária em favor próprio do domínio do “horror capitalista”. Ainda existe o “manifesto azul”, enquanto filosofia que nos devolve a alegria e esperança de vida mais alegre. Virada para a “Mãe Natureza”, é a esperança que por si própria pode conduzir uma mudança positiva devolvendo inteligência, lucidez, visão e honestidade aos nossos “Homens”.  

O projecto desenvolve-se baseado nesta visão, um pouco romântica, recorrendo a uma observação de tudo e de todos que me envolvem…  

O “azul” ainda existe…