terça-feira, 8 de maio de 2018

Cartoon à moda de ilhéu


O maior desafio de comunicação de massas para qualquer artista é ser cartunista, onde as pessoas não sabem lidar com a crítica e o humor inteligente.

Geralmente, o cartoon apropria-se de temas muito mediáticos, polémicos e nocivos para a sociedade. Mas também aborda assuntos mais positivos que façam pedagogia para a instrução dos cidadãos no sentido de se habilitarem com maior civismo no meio em que vivem, respeitando o ambiente e o ecossistema inclusive.

Recebi o convite do meu grande amigo Elias Costa, o director do site “Interlusófona” para ser ilustrador ou cartoonista da “Interlusófona” num projecto de comunicação visual que pensei e aceitei logo como sendo muito interessante para o nosso panorama cultural e informativo. O factor determinante para a aceitação desta proposta foi a total liberdade para escolher os temas, desenhar e comunicar sem qualquer censura.

É verdade que em São Tomé e Príncipe, sempre se viveu num ambiente de permanente desconfiança e medo, outrora por causa dos regimes instalados no território que actualmente não se justifica. A instabilidade política associada ao factor económico e social surreal tem criado um universo fértil para a criatividade no domínio da ilustração e crítica plástica. Penso que todas as artes encontram na actualidade em que a ausência de um Estado de direito e responsável é tão vital como a água para a sobrevivência humana. Este não é um olhar dramático. A realidade é que é puramente dramática.

Não me interessa a política, mas é impossível um cidadão, por mais ignorante que seja, não se aperceba do caos socio político instalado num país tão pequeno com poucos habitantes onde todos teoricamente deveriam viver modestamente bem e tranquilo.

Este cenário apelativo para observação crítica no domínio artístico tem crescido desde a eleição do último presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Pois, vejamos os seguintes acontecimentos desde lá até ao presente momento:

- Eleição do último presidente da república
- Porto de águas profundas e o porto flutuante
- O derrame de combustível da EMAE na central eléctica de Sant’ Amaro
- A desordem parlamentar
- A sujidade, a desordem e a desorganização sócio-urbana
- O caso da fábrica ROSEMA…

Todos estes factos têm demonstrado a fraca capacidade dos santomenses se organizarem e governarem com eficiência o país.

Se por um lado os dirigentes políticos resultam da representação dum povo ignorante, burro, estúpido e corrupto, então os políticos só podem ser a sua imagem por falta de ambição de serem pessoas melhores com capacidade de mais fazerem para o seu povo.
A escolha editorial é a de fazer uma comunicação com um caracter mais pedagógico e um humor menos provocatório e o “Cartoon à moda do ilhéu” trata nesta fase experimental e inicial os assuntos próprios do arquipélago equatorial de atmosfera cinzenta.

Não existe no país uma grande tradição da prática do desenho fora do ambiente educativo; entretanto, com o aparecimento do Jornal Revolução, do Ministério de Informação no início do período pós-independência, na sua versão do jornal de parece publicado no Mercado Municipal, foi essencial para o desenvolvimento da ilustração para o público. Era importante que a comunicação também fosse feita com a ajuda de imagens para que a mensagem mais facilmente fosse percebida pelo público menos instruído e o jornal tornasse também mais atraente. O João Carlos, o Carlos Borboleta foram os ilustradores mais conhecidos.
O surgimento do jornal “O Parvo” trouxe-nos o cartoon mais expressivo com uma regularidade mais profissional. O Cagido Pina e o Litos Silva foram os artistas escolhidos para este projecto…

Poucos são os artistas santomenses que se dedicam com vigor a esta prática artística e de comunicação; por isso, achei interessante agarrar neste desafio para levar o cartoon ao ambiente de leitura dos santomenses e dos lusófonos com maior frequência, contribuindo para a formação de um público que aprenda a lidar melhor com a crítica e a respeitar a diversidade de opiniões.


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