O maior desafio de comunicação de massas para qualquer
artista é ser cartunista, onde as pessoas não sabem lidar com a crítica e o
humor inteligente.
Geralmente, o cartoon
apropria-se de temas muito mediáticos, polémicos e nocivos para a sociedade.
Mas também aborda assuntos mais positivos que façam pedagogia para a instrução
dos cidadãos no sentido de se habilitarem com maior civismo no meio em que vivem,
respeitando o ambiente e o ecossistema inclusive.
Recebi o convite do meu
grande amigo Elias Costa, o director do site “Interlusófona” para ser
ilustrador ou cartoonista da “Interlusófona” num projecto de comunicação visual
que pensei e aceitei logo como sendo muito interessante para o nosso panorama
cultural e informativo. O factor determinante para a aceitação desta proposta foi
a total liberdade para escolher os temas, desenhar e comunicar sem qualquer censura.
É verdade que em São
Tomé e Príncipe, sempre se viveu num ambiente de permanente desconfiança e
medo, outrora por causa dos regimes instalados no território que actualmente
não se justifica. A instabilidade política associada ao factor económico e
social surreal tem criado um universo fértil para a criatividade no domínio da
ilustração e crítica plástica. Penso que todas as artes encontram na
actualidade em que a ausência de um Estado de direito e responsável é tão vital
como a água para a sobrevivência humana. Este não é um olhar dramático. A
realidade é que é puramente dramática.
Não me interessa a
política, mas é impossível um cidadão, por mais ignorante que seja, não se
aperceba do caos socio político instalado num país tão pequeno com poucos
habitantes onde todos teoricamente deveriam viver modestamente bem e tranquilo.
Este cenário apelativo
para observação crítica no domínio artístico tem crescido desde a eleição do
último presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Pois, vejamos
os seguintes acontecimentos desde lá até ao presente momento:
- Eleição do último
presidente da república
- Porto de águas
profundas e o porto flutuante
- O derrame de
combustível da EMAE na central eléctica de Sant’ Amaro
- A desordem
parlamentar
- A sujidade, a desordem
e a desorganização sócio-urbana
- O caso da fábrica ROSEMA…
Todos estes factos têm
demonstrado a fraca capacidade dos santomenses se organizarem e governarem com
eficiência o país.
Se por um lado os
dirigentes políticos resultam da representação dum povo ignorante, burro,
estúpido e corrupto, então os políticos só podem ser a sua imagem por falta de
ambição de serem pessoas melhores com capacidade de mais fazerem para o seu
povo.
A escolha editorial é a
de fazer uma comunicação com um caracter mais pedagógico e um humor menos
provocatório e o “Cartoon à moda do ilhéu” trata nesta fase experimental e
inicial os assuntos próprios do arquipélago equatorial de atmosfera cinzenta.
Não existe no país uma
grande tradição da prática do desenho fora do ambiente educativo; entretanto, com
o aparecimento do Jornal Revolução, do Ministério de Informação no início do
período pós-independência, na sua versão do jornal de parece publicado no
Mercado Municipal, foi essencial para o desenvolvimento da ilustração para o
público. Era importante que a comunicação também fosse feita com a ajuda de
imagens para que a mensagem mais facilmente fosse percebida pelo público menos
instruído e o jornal tornasse também mais atraente. O João Carlos, o Carlos
Borboleta foram os ilustradores mais conhecidos.
O surgimento do jornal
“O Parvo” trouxe-nos o cartoon mais expressivo com uma regularidade mais
profissional. O Cagido Pina e o Litos Silva foram os artistas escolhidos para
este projecto…
Poucos são os artistas
santomenses que se dedicam com vigor a esta prática artística e de comunicação;
por isso, achei interessante agarrar neste desafio para levar o cartoon ao
ambiente de leitura dos santomenses e dos lusófonos com maior frequência,
contribuindo para a formação de um público que aprenda a lidar melhor com a
crítica e a respeitar a diversidade de opiniões.
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