quarta-feira, 11 de abril de 2018

Ocidental Africano

“Ocidental Africano” é o referente da mais recente exposição do artista plástico Manuel Xavier realizada na galeria da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, na Póvoa do Varzim, que propõe analisar as vivências e memórias de duas realidades geográficas diferentes:
A cultura europeia e o modo de viver africano.

Xavier é natural da ilha do Príncipe, terra do golfo da Guiné onde nasceu em 1947, fez a sua infância e após os seus estudos liceais viaja para Portugal. Na cidade do Porto forma-se em belas artes, lá decide residir e trabalhar como professor e artista plástico.

A história de vida que começa com viagem, faz deste artista um homem aventureiro e viajante. O seu gosto por viagem, leva-lhe com muita frequência a visitar muitas partes do mundo que enriquecem o seu universo interior, consequentemente influencia o seu pensamento e todo o seu trabalho artístico.

Mas nunca se esqueceu da sua terra natal, São Tomé e Príncipe.

Depois de muitos anos a viver no Porto, viaja para as ilhas do falcão e do papagaio, embebendo de novo valores que tinham ficado na sua memória. Esta experiência de contacto renovado com a sua terra de origem e a aproximação à comunidade santomense em Portugal nos últimos tempos influencia de forma muito vincada os temas das suas pinturas.
As danças clássicas europeias e as tradicionais santomenses dividem a presente exposição em dois grupos de trabalhos diferente, sendo a escultura refletindo mais visivelmente a sua visão do pensamento ocidental e as pinturas rebuscando a ambiência do quotidiano santomense.

Nesta exposição vemos pintura, escultura, Portugal e São Tomé e Príncipe, numa visão retrospectiva em que o artista impõe a sua identidade cultural matriz, exibindo no evento com as tradicionais das suas ilhas, executadas pelos estudantes santomenses no Porto integrados no grupo cultural da AESTPP (Associação de Estudantes Santomenses no Porto).

Com uma paleta de cores muito própria, ele compõe cenas do espaço popular insular, em ambiente doméstico, numa figuração mais visível, opondo à abstracção linear mais comum nas suas pinturas. O que novidade para o observador que acompanha o seu trabalho artístico. Uma combinação muito bem conseguida entre as linhas e as manchas sugeridas pelas pinceladas sobre a tela. Com ritmo e sugestão de movimento ora frenético, ora mais cadenciado indica visivelmente numa cenografia típica a puita e a ússua, ambas, respectivamente, danças típicas nacionais. Por outro lado as esculturas harmoniosamente modeladas em cerâmica, mantêm as linhas dinâmicas igualmente harmoniosas das danças em poses clássicas obrigando as pessoas a fixarem o seu olhar sem se distraírem.

Dois elementos de grande força dominam as suas composições ou esculturas: o peixe e as pessoas. A seguir a estes é que se reconhece ou se descobre as paisagens. Por detrás de cada mancha e linhas vai se descobrindo novos elementos ou cada vez que se observa os seus quadros parece que se faz nova descoberta arqueológica. É como se fizesse uma arqueologia mental, visual e da memória. Esta forma de comunicar do Manuel Xavier, faz dele um grande artista com grande potencialidade e capacidade para criar, inovar e revelar o mundo fantástico das artes.

A gama cromática de matriz quente, deve ser da influência lumínica africana que nada tem a ver com a estável predominância atmosfera cinzenta da cidade do Porto (Uma ótima luz que favorece o pintor no atelier pelo facto da sua intensidade ser constante e estável). As dominantes verdes, azuis e os avermelhados, em médio contraste, realçam da superfície e surpreendem o observador.

Com a representação dessas danças e movimentos plásticos, o Xavier nos convida para uma viagem para mundos imaginários sugerido pelas susão das realidades euroafricanas da sua arte habilmente elaborada pelas suas mãos a partir do barro e da tinta.

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