sexta-feira, 18 de maio de 2018

Senhor Veoide

Antropologia visual e arqueologia, em 18 de Maio de 2018.
Um dos últimos homens a vestir fato branco e capacete até 1983, em São Tomé e Príncipe.


Veoide Pires dos Santos.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Cartoon à moda de ilhéu


O maior desafio de comunicação de massas para qualquer artista é ser cartunista, onde as pessoas não sabem lidar com a crítica e o humor inteligente.

Geralmente, o cartoon apropria-se de temas muito mediáticos, polémicos e nocivos para a sociedade. Mas também aborda assuntos mais positivos que façam pedagogia para a instrução dos cidadãos no sentido de se habilitarem com maior civismo no meio em que vivem, respeitando o ambiente e o ecossistema inclusive.

Recebi o convite do meu grande amigo Elias Costa, o director do site “Interlusófona” para ser ilustrador ou cartoonista da “Interlusófona” num projecto de comunicação visual que pensei e aceitei logo como sendo muito interessante para o nosso panorama cultural e informativo. O factor determinante para a aceitação desta proposta foi a total liberdade para escolher os temas, desenhar e comunicar sem qualquer censura.

É verdade que em São Tomé e Príncipe, sempre se viveu num ambiente de permanente desconfiança e medo, outrora por causa dos regimes instalados no território que actualmente não se justifica. A instabilidade política associada ao factor económico e social surreal tem criado um universo fértil para a criatividade no domínio da ilustração e crítica plástica. Penso que todas as artes encontram na actualidade em que a ausência de um Estado de direito e responsável é tão vital como a água para a sobrevivência humana. Este não é um olhar dramático. A realidade é que é puramente dramática.

Não me interessa a política, mas é impossível um cidadão, por mais ignorante que seja, não se aperceba do caos socio político instalado num país tão pequeno com poucos habitantes onde todos teoricamente deveriam viver modestamente bem e tranquilo.

Este cenário apelativo para observação crítica no domínio artístico tem crescido desde a eleição do último presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Pois, vejamos os seguintes acontecimentos desde lá até ao presente momento:

- Eleição do último presidente da república
- Porto de águas profundas e o porto flutuante
- O derrame de combustível da EMAE na central eléctica de Sant’ Amaro
- A desordem parlamentar
- A sujidade, a desordem e a desorganização sócio-urbana
- O caso da fábrica ROSEMA…

Todos estes factos têm demonstrado a fraca capacidade dos santomenses se organizarem e governarem com eficiência o país.

Se por um lado os dirigentes políticos resultam da representação dum povo ignorante, burro, estúpido e corrupto, então os políticos só podem ser a sua imagem por falta de ambição de serem pessoas melhores com capacidade de mais fazerem para o seu povo.
A escolha editorial é a de fazer uma comunicação com um caracter mais pedagógico e um humor menos provocatório e o “Cartoon à moda do ilhéu” trata nesta fase experimental e inicial os assuntos próprios do arquipélago equatorial de atmosfera cinzenta.

Não existe no país uma grande tradição da prática do desenho fora do ambiente educativo; entretanto, com o aparecimento do Jornal Revolução, do Ministério de Informação no início do período pós-independência, na sua versão do jornal de parece publicado no Mercado Municipal, foi essencial para o desenvolvimento da ilustração para o público. Era importante que a comunicação também fosse feita com a ajuda de imagens para que a mensagem mais facilmente fosse percebida pelo público menos instruído e o jornal tornasse também mais atraente. O João Carlos, o Carlos Borboleta foram os ilustradores mais conhecidos.
O surgimento do jornal “O Parvo” trouxe-nos o cartoon mais expressivo com uma regularidade mais profissional. O Cagido Pina e o Litos Silva foram os artistas escolhidos para este projecto…

Poucos são os artistas santomenses que se dedicam com vigor a esta prática artística e de comunicação; por isso, achei interessante agarrar neste desafio para levar o cartoon ao ambiente de leitura dos santomenses e dos lusófonos com maior frequência, contribuindo para a formação de um público que aprenda a lidar melhor com a crítica e a respeitar a diversidade de opiniões.


terça-feira, 1 de maio de 2018

A Liberdade insular


São Tomé e Príncipe é um arquipélago do Golfo da Guiné, que para além de ser um território pequeno é a sua insularidade que constitui a outra barreira geográfica.

Oniricamente, o santomense só pode ir longe se souber navegar, logo a conquista da liberdade se manifesta com esperança quando este tem a iniciativa de construir a sua canoa.

Será que este povo sabe sonhar?

Durante vários séculos a população destas ilhas viveram oprimidos pelo regime colonial. O 25 de Abril de 1974 acelerou o processo de independência política juntamente com os outros países africanos e com os novos regimes instalados; mesmo com a democracia, a liberdade tem sido sistematicamente questionada (a liberdade do cidadão, a liberdade de expressão e a liberdade de circulação).

O poder governamental da actualidade, igualmente viciado pela cultura do asfixiamento das liberdades alheias, tem usado o seu poder para controlar não só as estruturas do estado, mas também criar um clima de intimidação na qual as pessoas sentem medo de falarem com à-vontade alguns assuntos que incomodam os representantes do poder político nacional. (Os detentores de cargos públicos hierárquicos superiores exibem com luxo o seu poderio institucional e social).

As deficientes condições económicas em que a maior parte dos santomenses vivem, a dependência dos serviços do estado associado aos diversos privilégios sociais, são alguns dos motivos de grande jogo de subserviência, clientelismo, amiguismo e nepotismo instalados genericamente nesta sociedade que obriga todos a se calarem com o medo de perderem os respectivos benefícios ou os dos seus familiares…
Algumas vozes se levantam. Fala-se em segredos, em cochichos; mas nunca de forma assumida.
É difícil estar-se confortável com as pessoas naquele meio. Muitos parecem autênticos bufos porque comportam-se como tal. E as novas tecnologias facilitam muito. Em privado, gravam-se conversas sem o consentimento do interlocutor com o objectivo de chantagem ou uso equiparado num tempo oportuno. Até os assuntos de estado saem à praça pública como se tratasse de sendas domésticas.

Bem, o paradoxo da liberdade e a falta dela parece andarem paralelas. Se por um lado fala-se demais sobre assuntos do estado, da justiça, privados, etc. por outro existe um medo institucionalizado na qual o silêncio prevalece de forma medonha.
Em 2015 o presidente do sindicato dos jornalistas se pronunciou sobre o assunto afirmando que a comunicação social não tinha ferramentas profissionais para exercer a liberdade jornalística com imparcialidade.
O que eu questiono é como pode um profissional maldizer do seu patrão?
E os jornalistas privados podem criticar o estado nos seus males feitos governamentais?
Se o estado é o maior cliente de quase todos os serviços no país, logo quase todos os indivíduos dependem desta estrutura para a sua sobrevivência.
Não há outra alternativa. O mar faz desta terra uma autêntica cadeia de exuberante beleza natural. A população não pode sair deste país que a asfixia.
Até os artistas plásticos, castigados pela vida miserável, lutam entre si para encontrarem saídas para se afirmarem como humanos.

Não há emprego no país. Os artistas não conseguem depender da sua actividade criativa para o seu autossustento e o da sua família. Esta classe profissional pouco usa a subtileza da sua linguagem estética e de comunicação para abordar assuntos de maior relevância da actualidade. Será por medo? Compreendo a sensibilidade da situação, mas não devemos sentirmo-nos ameaçados pelo poder politico por expormos as nossas preocupações críticas sobre o sistema. Caso contrário estamos instalados num regime cuja a liberdade do cidadão está posta em causa e até a liberdade criativa. A má convivência política que divide os santomenses, também tem afectado os artistas e é a causa de todo o mau ambiente entre os santomenses…

Podemos saber o que fazer para alterar esta realidade, mas o mais difícil é a sua materialização por causa de condicionalismos e dependências de diversos factores no plano económico. Mas há muito que se pode fazer sem se depender do maldito recurso financeiro da qual o país depende do exterior.

Pode-se conquistar a liberdade sem o dinheiro?

Enquanto o ser humano luta pela conquista da comida é impossível trabalhar para o desenvolvimento.
Importa-me nesta reflexão, não discutir a liberdade sob o ponto de vista conceptual, mas sim, olhar para o exercício da liberdade e entender como o mesmo é vivido na nossa sociedade com pragmatismo. A sua prática nos sectores públicos do estado, no privado e na sociedade santomense em geral.

Os santomenses entendem que a liberdade ainda pode ser vivida com maior plenitude por isso há muitos aspectos que podem ser melhorados na nossa democracia.

No meio artístico, a arte não pode ser silenciada porque, assim, ela morre.
A arte nasceu na liberdade, com a liberdade e assim deve continuar. Tem o dever de exercer a pedagogia e aquisição deste bem precioso da humanidade para uma boa convivência entre os seres humanos.

Viva a LIBERDADE. Esta parece estar no mar insular ou para além do seu horizonte.