São Tomé e Príncipe é um
arquipélago do Golfo da Guiné, que para além de ser um território pequeno é a
sua insularidade que constitui a outra barreira geográfica.
Oniricamente, o santomense só pode ir longe se souber navegar, logo
a conquista da liberdade se manifesta com esperança quando este tem a
iniciativa de construir a sua canoa.
Será que este povo
sabe sonhar?
Durante vários séculos a
população destas ilhas viveram oprimidos pelo regime colonial. O 25 de Abril de
1974 acelerou o processo de independência política juntamente com os outros
países africanos e com os novos regimes instalados;
mesmo com a democracia, a liberdade tem sido sistematicamente questionada (a
liberdade do cidadão, a liberdade de expressão e a liberdade de circulação).
O poder governamental da
actualidade, igualmente viciado pela cultura do asfixiamento das liberdades
alheias, tem usado o seu poder para controlar não só as estruturas do estado,
mas também criar um clima de intimidação na qual as pessoas sentem medo de
falarem com à-vontade alguns assuntos que incomodam os representantes do poder
político nacional. (Os detentores de cargos públicos
hierárquicos superiores exibem com luxo o seu poderio institucional e social).
As deficientes condições
económicas em que a maior parte dos santomenses vivem, a dependência dos
serviços do estado associado aos diversos privilégios sociais, são alguns dos
motivos de grande jogo de subserviência, clientelismo, amiguismo e nepotismo instalados genericamente nesta sociedade
que obriga todos a se calarem com o medo de perderem os respectivos benefícios
ou os dos seus familiares…
Algumas vozes se levantam.
Fala-se em segredos, em cochichos; mas nunca de forma assumida.
É difícil estar-se confortável
com as pessoas naquele meio. Muitos parecem autênticos bufos porque comportam-se como tal. E as novas tecnologias
facilitam muito. Em privado, gravam-se conversas sem o consentimento do
interlocutor com o objectivo de chantagem ou uso equiparado num tempo oportuno.
Até os assuntos de estado saem à praça pública como se tratasse de sendas
domésticas.
Bem, o paradoxo da liberdade e
a falta dela parece andarem paralelas. Se por um lado fala-se demais sobre
assuntos do estado, da justiça, privados, etc. por outro existe um medo
institucionalizado na qual o silêncio prevalece de forma medonha.
Em 2015 o presidente do
sindicato dos jornalistas se pronunciou sobre o assunto afirmando que a
comunicação social não tinha ferramentas profissionais para exercer a liberdade
jornalística com imparcialidade.
O que eu questiono é como pode
um profissional maldizer do seu patrão?
E os jornalistas privados
podem criticar o estado nos seus males feitos governamentais?
Se o estado é o maior cliente
de quase todos os serviços no país, logo quase todos
os indivíduos dependem desta estrutura para a sua sobrevivência.
Não há outra alternativa. O
mar faz desta terra uma autêntica cadeia de exuberante beleza natural. A
população não pode sair deste país que a asfixia.
Até os artistas plásticos,
castigados pela vida miserável, lutam entre si para encontrarem saídas para se
afirmarem como humanos.
Não há emprego no país. Os
artistas não conseguem depender da sua actividade criativa para o seu
autossustento e o da sua família. Esta classe
profissional pouco usa a subtileza da sua linguagem estética e de comunicação
para abordar assuntos de maior relevância da actualidade. Será por medo?
Compreendo a sensibilidade da situação, mas não devemos sentirmo-nos ameaçados
pelo poder politico por expormos as nossas preocupações críticas sobre o
sistema. Caso contrário estamos instalados num regime cuja a liberdade do
cidadão está posta em causa e até a liberdade criativa. A má convivência
política que divide os santomenses, também tem afectado os artistas e é a causa
de todo o mau ambiente entre os santomenses…
Podemos saber o que fazer para
alterar esta realidade, mas o mais difícil é a sua materialização por causa de condicionalismos e dependências de diversos
factores no plano económico. Mas há muito que se pode fazer sem se
depender do maldito recurso financeiro da qual o país depende do exterior.
Pode-se conquistar a liberdade
sem o dinheiro?
Enquanto o ser humano luta
pela conquista da comida é impossível trabalhar para o desenvolvimento.
Importa-me nesta reflexão, não
discutir a liberdade sob o ponto de vista conceptual, mas sim, olhar para o
exercício da liberdade e entender como o mesmo é vivido na nossa sociedade com
pragmatismo. A sua prática nos sectores públicos do estado, no privado e na
sociedade santomense em geral.
Os santomenses entendem que a
liberdade ainda pode ser vivida com maior
plenitude por isso há muitos aspectos que podem ser melhorados na nossa
democracia.
No meio artístico, a
arte não pode ser silenciada porque, assim, ela morre.
A arte nasceu na
liberdade, com a liberdade e assim deve continuar. Tem o dever de exercer a
pedagogia e aquisição deste bem precioso da humanidade para uma boa convivência
entre os seres humanos.
Viva a LIBERDADE.
Esta parece estar no mar insular ou para além do seu horizonte.