Em Portugal, os africanos
genericamente comemoram o dia 25 de Maio. Comemora-se de várias formas,
independentemente das suas religiões, formação política ou quaisquer outras
ideologias ou convicção.
Neste dia o foco é África.
Entre o rufar dos batuques,
festas com comeretes apelativos evocando o berço da humanidade como a terra
mãe, os comerciantes de todas as áreas de negócio aproveitam este marco para venderem
os seus produtos de matriz africana, que vão desde o artesanato, tecidos,
esculturas, objectos decorativos, moda, arte. Produz-se em todo o país eventos
como debates nas universidades e algumas escolas secundárias. Mas só a RDP
África não silencia a sua edição com programas dedicados ao dia.
Porquê 25 de Maio?
Neste dia de 1963, na
Etiópia, foi criada a Organização da União Africana, com o objetivo de
defender e emancipar o continente africano. Nove anos depois, a Organização das
Nações Unidas estabeleceu o dia 25 de Maio como o Dia da África ou o Dia da
Libertação da África. Em 2002 a OUA foi substituída pela União Africana mas a
celebração da data manteve-se. O simbolismo desta data nos remete para a ideia
duma África mais unida, livre, independente e desenvolvida. O continente que se
libertou da colonização das potências europeias e do regime do Aphartaid
continua cooperante com as ex-colónias e muito dependente destes.
Esta data é comemorada
em todos os países africanos e os africanos residentes nas diásporas também a
comemoram.
Em Portugal a maior parte
dos africanos conhecem este dia e não ficam indiferentes a data. Vê-se
senhoras, jovens e homens nas ruas vestidos com trajos que os identificam ao
continente considerado o berço da humanidade. Em algumas escolas e
universidades onde a presença africana é grande, realizam-se atividades
consagrados ao dia. Festas, debates, exposições de arte e conversas espontâneas
sobre diversas realidades deste continente são vividas com intensidade por
diversas comunidades e associações socioculturais e de afrodescendentes…
Sevem somente estas festas
para que os africanos se divirtam sem qualquer outro significado?
Penso que data deve ser
levada mais a sério para justificar a sua existência desde a sua origem.
Atualmente, África é um
continente que vive com alguma liberdade política pós-independência, mas
enfrenta enormes problemas e desafios para os superar.
O 25 de Maio deve
ser um dia de capital importância para os africanos, sobretudo, um dia de
tomada da consciência africana para que o povo e as suas elites em toda a parte
do mundo façam algo de positivo para continuar a estimular o desenvolvimento
deste continente com imensos recursos naturais, mas pobre, com miséria, fome e
guerra pela sobrevivência.
-----------
O mais interessante
questionarmos, é como em África as pessoas pensam sobre este dia. Mais do que
isto, é saber como e o que os africanos podem fazer, a partir do entendimento
da importância desta data, para produzir pensamentos ou ações que efetivamente
oriente o velho continente ao desenvolvimento humano e económico.
Na Europa, os africanos
isoladamente nada podem fazer para a alteração do paradigma de governação e
orientação do que deve ser o modelo mais assertivo para dirigir os países de
África.
As pessoas ou as
organizações que actuam na Europa podem, sim, se organizarem e criarem
programas sociais, educativos e empresariais como forma de participarem com
maior vigor na vida dos respectivos países. Todas as acções devem ser feitas
com o conhecimento ou parceria do governo.
Infelizmente toda a economia
feita em África é aplicada na Europa em vez de ser reinvestida no respectivo
continente. Pequenas e grandes remessas são sistematicamente enviadas para o
Ocidente com o objectivo de absorver os produtos europeus.
África tem que produzir
mais. Os africanos têm que fazer mais para sí próprio.
Que projectos os
africanos em Portugal, por exemplo, para elevar a sua presença no domínio
cultuaral? As organizações existentes que ambições têm para cumprirem este
objectivo e abrirem o espaço para a melhor integração na sociedade portuguesa?
O Artáfrica,
promovido pela Fundação Gulbenkian na sua fase inicial, é na minha modesta
opinião, o único projecto que tem servido a escala internacional para a
divulgação e conhecimento dos artistas africanos de expressão portuguesa com um
pragmatismo extraordinário.
Quais são os
africanos em Portugal que estão a trabalhar no sentido de se ter neste país o
centro de arte e cultura africana de referência? Vamos sempre estender as mãos
e continuar à espera dos outros para fazerem algo por nós?
No domínio da arte e da cultura, em Portugal, os africanos têm sido quase inertes em iniciativas culturais consistentes que promovam projectos de grande interesse e sustentáveis.
A arte ao serviço do desenvolvimento é o novo e o único meio eficaz para a melhor intervenção e participação dos artistas na busca de soluções de diversos problemas da sociedade no domínio social, económico e cultural.
A arte pela arte não sobriverá ou não trará dividendos de sobrevivência se os artistas pensarem exclusivamente na estética.
A solução para os artistas africanos é a busca de trabalho, produção e comercio cultural num modelo que as indústrias criativas actuais propõem e os mesmos gozarem de liberdade de serem empreendedores e realizarem projectos sustentáveis.
Só.