quarta-feira, 19 de abril de 2017

O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios


O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios é celebrado a 18 de abril, e em São Tomé e Príncipe esta data não foi comemorada por razões alheias ao Ministério de Educação Cultura e Ensino.
Um país que quer viver do turismo e de economia cultural não deve distanciar desta referência promocional para os seus bens culturais e patrimoniais como factor pedagógico por um lado e económico por outro lado. A indústria cultural não está montada e nem o público conhece a estratégia para montar esta indústria, articulando esforços e cooperação intersectorial, juntando os interesses da Direcção Nacional de Cultura à Direcção do Turismo, Ministério da Agricultura, Ministério da Economia e a Direção da Finanças. A estes ainda juntar-se-ia o a Direção do Ensino. Todas essas instituições poderiam juntar-se e elaborarem um macro plano para a gestão e exploração dos patrimónios edificados e sítios com o interesse de servir o público nacional e atrair o público turista.
Se o país tem um vasto leque patrimonial natural, arquitetónico e cultural, esses devem ser estudados, conservados e mostrados. Não compreendo como é que as organizações estatais e culturais privadas não sabem tirar proveito destas oportunidades para dinamizarem as suas actividades!
Sabemos que muitas roças estão abandonadas. Não seria esta data oportuna para ser promovido debate nacional sobre o património nacional e ser promovida visitas às roças como alerta a conservação desses grandes bens por nós herdados do colonialismo?
Neste objectivo cultural, a Direcção de Cultura e a Direção de turismo deveriam ser dois parceiros institucionais aliados na defesa e promoção do património nacional e este segundo o responsável pela estratégia de marketing e exploração desses bens no mercado turístico.
São Tomé e Príncipe tem mais de 150 roças divididas em grandes, médias e pequenas propriedades agrícolas, tem lindíssimas paisagens naturais e geológicas, ambientes marítimos e terrestres com vegetação primária, locais simbólicos no contexto histórico, religioso e cultural que podem constituir percursos temáticos de uma riqueza extraordinária. Potencializemos esses recursos com um bom planeamento, programação e respectiva divulgação.
A data visa promover os monumentos e sítios históricos e valorizar o patrimônio nacional, ao mesmo tempo que tenta alertar para a necessidade da sua conservação e proteção.
A data foi instituída a 18 de Abril de 1982 pelo ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), uma associação de profissionais da conservação do património, e aprovada pela UNESCO em 1983.
O tema de 2017 é " Património Cultural e Turismo Sustentável".

domingo, 9 de abril de 2017

Budo Budo


Budo, do crioulo forro, significa pedra em português.

Para qualquer santomense “budo” é uma palavra forte com mais do que um significado e que ganha outros sentidos dependendo do contexto em que for utilizado.  Pedra, esta matéria geológica, este ser inanimado, rija, rude, resistente, agressivo, é uma arma de combate violento e também é um elemento que ajuda a erguer estruturas de um edifício. A metáfora do “budo” está tão presente nas memórias do Valdemar Dória que este recorda e conta histórias da sua infância em São Tomé para falar do basalto, a pedra vulcânica mais comum no arquipélago, que convive mergulhado poeticamente na rocha vermelha, de oxido de ferro, no mar, no rio e pico mais próximo do céu insular.  

Assim, “Budo Budo”, que é “pedra a pedra”, é a metáfora para o artista construir o seu discurso expositivo. Ora contando narrativas, com descrições gráficas muito saturadas e outras vezes simplificando a sua composição a um único elemento formal centralizado no suporte pictórico. Nesta exposição, ele trás ao observador um conjunto de trabalhos de escala reduzida, mas de uma matéria plástica de grande luz, pois a ausência no preto de marfim muito utilizado para definir as formas não fora utilizado.

Não é a primeira vez que o Valdemar pinta sobre objectos funcionais como a “gamela”, cujo formato redondo obriga-o a inovar o tratamento plástico das suas criações.

Se através desses objectos tradicionais há uma ligação com a matriz identitária na qual recorre frequentemente para encontrar justificações das suas realizações, também é verdade que em simultâneo esses referentes culturais são suportes estruturais para recriar um diálogo capaz de revelar intencionalmente o caminho que pretende construir. Entre a memória etnográfica e as vivências urbanas, o artista experimenta imprimir novos significados, de sentimentos contraditórios próprios do tempo actual em que as incertezas socioculturais, económicas e políticas estão muito presentes.

Na Lilliput, talvez a mais pequena galeria do mundo, situada num belo espaço a beira-rio na Vila franca de Xira podemos visualizar o ambiente que tenha, talvez, inspirado o Valdemar Dória a apresentar esta proposta plástica carregado também de significados emocionais das suas vivências urbanas lisboetas e memórias de infância.