sexta-feira, 30 de março de 2018

Kussy | Entre os Murais e o Corpo Humano


Artista contemporâneo referenciado na atualidade  artística angolana como um dos mais competentes quadros humanos promissores com potencialidades para fazer crescer, formar e contribuir para melhorar o olhar artístico da juventude do seu país.

Paulo Kussy nasceu em Angola em 1978 e muito cedo viajou para Portugal com os seus familiares onde estudou em todos os ciclos de ensino, concluiu a sua formação académica em artes plásticas pintura e especializou-se em anatomia artística pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

Como artista, o Kussy inicia-se pelo desenho, encontrando na expressão da pintura graffiti e murais a linguagem para se comunicar com o mundo numa atitude de alguma irreverência da própria juventude, por influências doutros jovens que gostavam igualmente da adrenalina e o espírito autêntico reconhecido desta arte das paredes urbanas e suburbanas da grande região Lisboeta. É em Oeiras e arredores que o artista encontrou o espaço para explorar as pinturas murais, conquistando territórios assinados com propriedade de combatente urbano assumido como Yssuk. Este nome é o elemento mais relevante na sua fase inicial que compõe muitas das variantes compositivas dos painéis pintados por Paulo.



Quanto mais pintava, mais assumia a sua condição de artista plástico e gradualmente vai deixando de ser Yssuk para assumir a sua real identidade como Kussy, enquanto homem livre e aberto para o mundo.
Esta condição de sujeito universal, sempre preocupado com a espécie humana e a sua dimensão no universo, vai se refletir nos seus futuros trabalhos como artista plástico. Desenhador rigoroso, conhecedor da história das artes e admirador da beleza humana, o Paulo Kussy escolhe a figura humana como o elemento mais importante nas suas composições tal como os artistas mais clássicos o fizeram durante toda a história das artes. O seu interesse pelo conhecimento do classicismo e pela anatomia humana assumem a transcendência do seu olhar criativo assim como o rigor geométrico na idealização e construção espacial elevam-se em jogos oníricos, representados num ambiente erótico muito peculiar deste artista angolano.

O que é muito interessante questionar-se também nas suas telas (e em todo o seu trabalho) é ausência de elementos iconográficos e registos conceptuais que o rementem para uma certa espacialidade africana ou particularmente angolana. O seu elevado conhecimento literário e a influência da cultura europeia presenteiam o observador, estimulando-o para uma contemplação mais universal, como acima anotei. Não é mais importante fazer da identidade angolana a sua abordagem temática. É fundamental, sim, refletir  com maior amplitude para além do território continental africano onde todos os seres humanos se cruzam, construindo uma relação mais harmoniosa entre si distanciando-se de todos os conflitos que têm caracterizado as sociedades modernas de todos os continentes. Afinal de contas, os seres humanos vivem e enfrentam problemas semelhantes na esfera terrestre. Daí a necessidade de observar, estudar, analisar questões comuns da humanidade que reflitam  e elevam o pensamento e atitude humana para um nível superior.
As suas figuras desenhadas sempre em clássico nu de poses exaustivamente estudadas até ao mais ínfimo detalhe de elementos musculares, ao contrário do nosso entendimento básico, é uma representação que coloca o sujeito no seu no plano ideal. Um plano em que a beleza anatómica modela o espaço social de uma arquitetura edificada por idealismo mais puro da mente das pessoas.

São essas premissas que nos ajudam a ler e entender muitas das pinturas deste artista que herdou os valores do classicismo e bem os trouxe para a contemporaneidade.
Tanto nas pinturas murais como nas telas a grande escala condicionam a elaboração estruturada da composição de cenas imaginadas ou recriadas a partir de apropriação de outras obras conhecidas da história de arte criando ambientes novos para impressionar e satisfazer a fruição do observador.

Constatamos as preocupações e a necessidade de comunicação do Kussy ao analisarmos os seus projetos artísticos dos últimos quinze anos. “ANATOMILIAS I”, “ANATOMILIAS II”, “Fitas Magnéticas”, “Despindo a Pele” e outros ensaios são exemplos conseguidos de crescimento e alcance de maturidade criativa fazendo do Paulo Kussy um artista que experimenta a poesia pintada num registo apelativo para qualquer escritor admirador da narrativa muito descritiva. Na simplicidade como apresenta as suas ideias aponta elementos de elevada curiosidade contemplativa fertilizando a mente de qualquer observador. Há sempre detalhes por descobrir cada vez que se observa as suas pinturas. Entre um fundo liso ou de paisagem urbana, as figuras despidas que nelas habitam quase visualmente construídas como máquinas cuja dinâmica compositiva espelha ideias dum mundo que só habita na mente deste criador.

Do conjunto das suas obras de uma policromia muito intensa em contrastes quentes e frios experimentamos no exercício do olhar a necessidade de preenchermos os espaços vazios ou preenchidos das suas telas como se o próprio observador estivesse dentro da composição.

Convida-nos a entrar mentalmente na cena!
As grandes escadas destas composições permitem-nos participar na alegoria encenada pelos seus habitantes pintados em linhas graficamente expressivas para conquistar a espacialidade cenográfica…

Assim, tanto o Yssuk como o Kussy, ambos se comunicam com o mundo pela monumentalidade dos seus painéis ou a entrega gingante da sua espiritualidade para aproximar-se da essência que ambiciona estar mais próximo do poder divino: o poder da criação.




Fonte: Plataforma Cafuka
http://cafuka.com/paulo-kussy

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