sábado, 3 de maio de 2008

sábado, 5 de abril de 2008

Aldeia [In]futura

'Aldeia [In]futura' é um projecto de artes plástica que propõe desenvolver um conjunto de objectos/ pinturas, em que Aldeia [In]futura é a metáfora orientadora de todo o pensamento plástico nos remete para uma reflexão do real estado do arquipélago santomense, questionando os aspectos profundos relacionados com as pessoas e todo o seu património envolvente.

Aldeia é um conceito geográfico de características rurais ou suburbanas, com sinais de desenvolvimento muito reduzido. O ambiente humano é de maior proximidade e convivência relativamente saudável, embora a tendência para a conflitualidade seja comum, muito característico de territórios insulares. São Tomé e Príncipe não foge a regra. É uma aldeia insular. A razão para tanta conflitualidade doméstica ainda merece um profundo estudo. As razões históricas e de classes sociais não deve ser explicação para os problemas. Se a pobreza e as dificuldades económicas são também motivos para as lutas de sobrevivência no país, a desorganização política, da administração pública e políticas erradas de desenvolvimento socioeconómico são também razões para constantes choques entre os santomense.

A falta de vontade política para o estado criar um povo altamente informado, bem instruído e formado com qualificações universitárias, condiciona a população para uma vivência mergulhada na ignorância para a satisfação dos interessados exclusivamente no poder político absoluto com total controlo dos recursos económicos do país criando o melhor ambiente para a corrupção e ambiência para a usurpação dos bens do estado e do povo.
Nesta perspectiva, o nosso arquipélago estrutura-se num modelo de desenvolvimento pobre em infraestruturas, com uma população ignorante e o país entregue aos cães famintos do poder que empobrecem o país sem uma classe média produtiva.

As incertezas destas duas ilhas sobreviverem a longo prazo como país independente é cada vez mais duvidoso. O [in]fururo é jogo lexical que reforça o entendimento deste futuro próspero duvidoso. E toda a abordagem estética com as suas significações, do olhar para os aspectos da pobreza traduzem a ideia dum universo em que dramaticamente desejamos que seja primitivo. Que o básico necessário para o se humano seja o insuficientemente confortável e digno. Então vejamos a falta de saneamento básico e a ausência de educação sanitária e cívica, que permite que as pessoas ainda continuem em pleno século XXI a defecarem ao ar livre!

Que país pode atingir um alto nível de crescimento quando as suas figuras de referência não têm casa de banho e ambicionam ter latrina anexa a casa que nem fazem o seu uso!

É este futuro que desejamos para o nosso país?

As pinturas traduzem analiticamente essas preocupações em resposta ao desafio lançado pela Biblioteca Fernando Piteira Municipal – Pólo da Boba, da Câmara Municipal da Amadora, alusivo aos festejos do seu 3.º aniversário, para expor no respectivo espaço.

A criação de um bairro social com infraestruturas e serviços comerciais, de saúde, educativos e cívicos num concelho de Portugal é estimulante para analisarmos comparativamente com o que se passa em São Tomé e Príncipe e tirarmos as nossas conclusões:
O poder político não quer o melhor para o seu povo.

Cabe a arte cumprir o seu papel de influenciar todos a refletirem e tomarem a consciência para um exercício intelectual e humano para a transformação da mentalidade no sentido mais positivo e fraterno entre as pessoas.