sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Um Caminho para os Afectos


São Tomé e Príncipe é uma terra santa.

O Presidente da república Portuguesa, prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa visitou o belíssimo arquipélago do Equador em plena época chuvosa quando os Ossobôs pararam os seus cantos para que o ôbô parasse a chuva. A natureza os escutou e Deus abençoou todos os santomenses e visitantes nesses dias de excepção, numa época em que as chuvas não deram tréguas. A natureza e as suas manifestações de alteração climática têm trazido a chuva que ninguém deseja de tão torrenciais que são e com cheias…
A tão esperada visita de sua Ex. cia o presidente de Portugal à São Tomé e Príncipe foi a melhor altura para inaugurar o maior empreendimento artístico e cultural do país: a CACAU – Casa da Cultura Artes e Utopias.



CACAU é um espaço de qualidade. A melhor infra-estrutura de arte e cultura que se tem no país que permite desafios tão grandes aos artistas nacionais e que os deixam preparados para se exibirem com orgulho em qualquer parte do mundo. (Os nobres convidados de Portugal depois desta visita presidencial, acredito que saíram do país com uma boa impressão das potencialidades artísticas encontradas no país. O investimento e a sua correta gestão é assunto para outra matéria).
Simpaticamente recebidos nesta casa com afectos, o presidente de Portugal e o Primeiro Ministro de São Tomé e Príncipe inaugurara a presente exposição e a reabertura da CACAU.

Depois de completamente remodelada e reconstruída a cobertura do edifício que originalmente funcionou como gare ferroviária e depois como estaleiro de obras pública, o centro cultural acolheu para a nobre ocasião no dia vinte e um de fevereiro do presente ano, uma exposição de artes plásticas, intitulada “Um Caminho para os afectos”. Que contou com com a participação de Adilson Castro, Olavo Amado, Geane Castro, Catita Dias, Cesaltino da Fonseca, Kwame Sousa, Seynni Gadhiaga e Soli Sicê.
Quer o tema desta exposição sugerir a criação de um afectividade com Portugal através deste simpático acolhimento a comitiva presidencial na casa das artes ou é esta recepção uma tentativa de apelar a todos que os avectos são valores fundamentais na relação humana, que está em falta particularmente na sociedade santomense…?
Esta exposição colectiva, montada quase numa linguagem minimalista, fala por si sobre esta tendência que a arquitectura do espaço impõe. As grandes áreas expositivas e as escalas das pinturas convidam o observador ao silêncio. Estas parecem muito pequenas para o tamanho do espaço e a distância entre as telas o que exige uma maior aproximação para a melhor leitura dos objectos de arte. Cada obra tinha espaço mais do que o suficiente para se respirar e comunicar-se com autonomia.



Integrado no interior na arquitectura do edifício, um muro de vinte e cinco metros de comprimento por três de altura, serviu de suporte para uma pintura mural intitulada “Muro dos Afectos”, pintado por Kwame Sousa torna-se a grande atracção do centro cultural.
A composição deste grande painel, contrariando a horizontalidade da orientação do suporte, o Artista pinta a totalidade das figuras representadas em linhas de força verticais, mantendo um ritmo estrutural constante alterado somente com apontamentos de algumas tonalidades mais quentes, sobreposições de desenhos, manchas e pinceladas que mudam de orientação espacial dando mais dinâmica ao painel.

As figuras representadas são homens, mulheres, todos no plano frontal pouco informa-nos sobre a identidade antropológica ou acção no espaço em que se situam. O artista, talvez, faz o registo de uma atmosfera psicológica ou retrato do estado emocional que remete-nos para o estado de relação de convivência entre as pessoas no seu universo social apelando à necessidade da criação efectiva de laços de amizade e afectividade entre os seres humanos.



As figuras muito firmes na sua verticalidade, simbolizam a timidez e a dificuldade dum quotidiano caracterizado por degradação de relações humanas e seus valores…
Entre a figuração e a abstracção, a riqueza deste painel é a dimensão da sua escala e o ensaio compositivo construído maioritariamente com figuras humanas e a ausência de referências espaciais; ou seja, não se observa a construção perspéctica e há uma tentativa simplesmente de fazer esta abordagem através da sobreposição de elementos com a mesma dimensão.

O grafismo e a sobreposição de elementos com uma variação cromática trinchadas ao longo da pintura, faz deste painel um objecto de contemplação obrigatória para uma fruição mais satisfatória do sujeito que observa esta obra. Ninguém consegue ficar indiferente.
O movimento que sentimos ao contemplarmos este mural marca o espaço do centro cultural, que é muito amplo, frio e monótono.

A acidez cromática e compositiva deste painel, sem dúvida alguma, trouxe mais calor, mais energia para o espaço e convidam as pessoas para o seu interior para um convívio mais próximos entre as pessoas.

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