São Tomé e
Príncipe é uma terra santa.
O Presidente
da república Portuguesa, prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa visitou o
belíssimo arquipélago do Equador em plena época chuvosa quando os Ossobôs
pararam os seus cantos para que o ôbô parasse a chuva. A natureza os escutou e
Deus abençoou todos os santomenses e visitantes nesses dias de excepção, numa
época em que as chuvas não deram tréguas. A natureza e as suas manifestações de
alteração climática têm trazido a chuva que ninguém deseja de tão torrenciais que
são e com cheias…
A tão
esperada visita de sua Ex. cia o presidente de Portugal à São Tomé e Príncipe
foi a melhor altura para inaugurar o maior empreendimento artístico e cultural
do país: a CACAU – Casa da Cultura Artes e Utopias.
CACAU é um
espaço de qualidade. A melhor infra-estrutura de arte e cultura que se tem no
país que permite desafios tão grandes aos artistas nacionais e que os deixam
preparados para se exibirem com orgulho em qualquer parte do mundo. (Os nobres
convidados de Portugal depois desta visita presidencial, acredito que saíram do
país com uma boa impressão das potencialidades artísticas encontradas no país.
O investimento e a sua correta gestão é assunto para outra matéria).
Simpaticamente
recebidos nesta casa com afectos, o presidente de Portugal e o Primeiro
Ministro de São Tomé e Príncipe inaugurara a presente exposição e a reabertura
da CACAU.
Depois de
completamente remodelada e reconstruída a cobertura do edifício que
originalmente funcionou como gare ferroviária e depois como estaleiro de obras
pública, o centro cultural acolheu para a nobre ocasião no dia vinte e um de fevereiro
do presente ano, uma exposição de artes plásticas, intitulada “Um Caminho para
os afectos”. Que contou com com a participação de Adilson
Castro, Olavo Amado, Geane Castro, Catita Dias, Cesaltino da Fonseca, Kwame
Sousa, Seynni Gadhiaga e Soli Sicê.
Quer o tema desta exposição sugerir a criação de um
afectividade com Portugal através deste simpático acolhimento a comitiva
presidencial na casa das artes ou é esta recepção uma tentativa de apelar a
todos que os avectos são valores fundamentais na relação humana, que está em
falta particularmente na sociedade santomense…?
Esta exposição colectiva, montada quase numa linguagem
minimalista, fala por si sobre esta tendência que a arquitectura do espaço
impõe. As grandes áreas expositivas e as escalas das pinturas convidam o
observador ao silêncio. Estas parecem muito pequenas para o tamanho do espaço e
a distância entre as telas o que exige uma maior aproximação para a melhor
leitura dos objectos de arte. Cada obra tinha espaço mais do que o suficiente
para se respirar e comunicar-se com autonomia.
Integrado no interior na arquitectura do edifício, um muro de
vinte e cinco metros de comprimento por três de altura, serviu de suporte para
uma pintura mural intitulada “Muro dos Afectos”, pintado por Kwame Sousa
torna-se a grande atracção do centro cultural.
A composição deste grande painel, contrariando a
horizontalidade da orientação do suporte, o Artista pinta a totalidade das
figuras representadas em linhas de força verticais, mantendo um ritmo
estrutural constante alterado somente com apontamentos de algumas tonalidades
mais quentes, sobreposições de desenhos, manchas e pinceladas que mudam de
orientação espacial dando mais dinâmica ao painel.
As figuras representadas são homens, mulheres, todos no plano
frontal pouco informa-nos sobre a identidade antropológica ou acção no espaço
em que se situam. O artista, talvez, faz o registo de uma atmosfera psicológica
ou retrato do estado emocional que remete-nos para o estado de relação de
convivência entre as pessoas no seu universo social apelando à necessidade da
criação efectiva de laços de amizade e afectividade entre os seres humanos.
As figuras muito firmes na sua verticalidade, simbolizam a
timidez e a dificuldade dum quotidiano caracterizado por degradação de relações
humanas e seus valores…
Entre a figuração e a abstracção, a riqueza deste painel é a dimensão
da sua escala e o ensaio compositivo construído maioritariamente com figuras
humanas e a ausência de referências espaciais; ou seja, não se observa a
construção perspéctica e há uma tentativa simplesmente de fazer esta abordagem
através da sobreposição de elementos com a mesma dimensão.
O grafismo e a sobreposição de elementos com uma variação
cromática trinchadas ao longo da pintura, faz deste painel um objecto de
contemplação obrigatória para uma fruição mais satisfatória do sujeito que
observa esta obra. Ninguém consegue ficar indiferente.
O movimento que sentimos ao contemplarmos este mural marca o
espaço do centro cultural, que é muito amplo, frio e monótono.
A acidez cromática e compositiva deste painel, sem dúvida
alguma, trouxe mais calor, mais energia para o espaço e convidam as pessoas
para o seu interior para um convívio mais próximos entre as pessoas.