quarta-feira, 18 de abril de 2018

A Paisagem que não sabemos cuidar


A paisagem não é um elemento isolado que funciona autonomamente. É a ligação entre diversos elementos que compõem o espaço e formam um panorama que é visualizada por todos.
O seu conceito nos remete para o entendimento visual, sensorial de um determinado local, pela qual percebemos os seus elementos constituintes e deles usufruímos.

Então, se o espaço é a paisagem, logo é neste que a vida é criada e toda a actividade humana e animal se regista. É na superfície terrestre que as sociedades se formam e se organizam por isso ao longo da história, muitos dos factos naturais e da actividade humana deixam marcas de transformação sobre a terra, o que deixam as respectivas marcas de mudança perceptíveis aos olhos humanos. 
Assim, a paisagem é um espaço dinâmico em função do tempo, quando procuramos perceber o seu amplo conceito.
As paisagens podem ser naturais, culturais, humanizadas ou artificiais. São artificiais quanto o espaço natural é transformado pelo homem. As cidades, vilas, aldeamentos, jardins ou propriedades agrícolas são alguns exemplos de transformação do espaço natural em artificial que consequentemente modifica a paisagem natural.

Estas duas ilhas são autênticos jardins botânicos sobre o oceano Atlântico equatorial!
São Tomé e Príncipe, com mais de trinta e um milhões de anos, viram a sua geologia e a sua paisagem a se transformar ao longo da sua história como território, mesmo depois da colonização até ao presente momento. A presença humana e a influência dos agentes geológicos, climáticos, geofísicos ou químicos são os responsáveis por essa transformação. Falo da transformação natural da sua própria existência numa visão positiva do ciclo e dinâmica natural.

Até, porque depois da independência política em 1975, os seus ocupantes nunca souberam cuidar do riquíssimo património natural em sua posse.

O paisagismo é uma área técnica e científica que faz falta ao país. Se a natureza e a paisagem são recursos potenciais que promovem o turismo como actividade sustentável para o desenvolvimento do país, porque não reunir especialistas que trabalhem ao alcance deste objectivo?

São Tomé e Príncipe são duas ilhas do Golfo da Guiné com uma flora característica da região equatorial, com um ecossistema sensível, muito arborizada que oferece ao observador uma ideia de que a paisagem natural parece uma mata com uma beleza que só se pode ver nos sonhos pela riqueza e variedade elementos que nela se encontram. Sendo um território de geologia vulcânica rodeado de mar azul prateado, a sua costa é recortada por pequenas praias de arreias com cores e características muito diversas que vão do areal amarelo dourado, branco, preto vulcão.

Pensar nessas ilhas do Equador, é pensar sempre nelas como uma pérola verdejante numa gama muito grande de verdes que se aproximam ao azul quanto mais longe estiver dos nossos olhos, que cabe nas nossas mãos.

Só se pode ter toda esta beleza se soubermos estimar e cuidar dela.
A data em que se convencionou comemorar o dia do património e dos sítios, 18 de Abril, eu sinto-me particularmente triste relativamente a São Tomé e Príncipe.
Os santomenses não sabem cuidar das suas ilhas. Talvez os habitantes da ilha do Príncipe seja excepção, com o seu programa de desenvolvimento sustentável que mereceu o reconhecimento do património natural da humanidade. Enquanto que os residentes da ilha de São Tomé fazem precisamente o contrário: destroem a sua bela natureza com os fundamentos de que são pobres economicamente. Este é um pensamento e uma atitude infeliz.

Quase nada se tem feito até então com visibilidade para a salvaguardo do que ainda existe.
Penso no presente momento como é alarmante na ilha de São Tomé:
1 – A extracção exagerada de inertes geológicos nas costas das ilhas e a má gestão desses recursos ao longo dos últimos 25 anos que têm descaracterizado e empobrecido a paisagem da orla marítima.
2 – O abate indiscriminado das árvores seculares no interior do ôbô.
3 – A falta de capacidade dos santomenses não travarem a degradação dos edifícios e infra-estruturas das antigas roças coloniais, requalifica-las dando-as novas utilidades.
4 – Observando as ilhas como um jardim, verificamos a falta de mais árvores de sombra na cidade e a necessidade de se replantar mais coqueiros na marginal para renovar as plantas e devolver à paisagem o verde cuidado que a nossa costa urbana muito maltratada pelos seus homens.

Os santomenses são filhos de escravos, mas também são filhos de patrões. Herdaram na sua genética algo de bom dos seus antepassados, por isso acredito que eles são capazes de alterar para melhor tudo o que têm feito de mal na paisagem.
Ainda há esperança de serem salvas as ruinas se a floresta não se antecipar em apoderar do que resta ou se as mãos humanas criminosas não destruírem o pouco que ainda resta nas ilhas.

O nosso éden Atlântico um dia será um lugar perfeito para satisfazer o orgulho santomense.

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