Budo, do crioulo forro,
significa pedra em português.
Para qualquer santomense
“budo” é uma palavra forte com mais do que um significado e que ganha outros
sentidos dependendo do contexto em que for utilizado. Pedra, esta matéria geológica, este ser
inanimado, rija, rude, resistente, agressivo, é uma arma de combate violento e
também é um elemento que ajuda a erguer estruturas de um edifício. A metáfora
do “budo” está tão presente nas memórias do Valdemar Dória que este recorda e
conta histórias da sua infância em São Tomé para falar do basalto, a pedra
vulcânica mais comum no arquipélago, que convive mergulhado poeticamente na
rocha vermelha, de oxido de ferro, no mar, no rio e pico mais próximo do céu
insular.
Assim, “Budo Budo”, que é “pedra a pedra”, é a metáfora para o
artista construir o seu discurso expositivo. Ora contando narrativas, com
descrições gráficas muito saturadas e outras vezes simplificando a sua
composição a um único elemento formal centralizado no suporte pictórico. Nesta
exposição, ele trás ao observador um conjunto de trabalhos de escala reduzida,
mas de uma matéria plástica de grande luz, pois a ausência no preto de marfim
muito utilizado para definir as formas não fora utilizado.
Não é a primeira vez que o
Valdemar pinta sobre objectos funcionais como a “gamela”, cujo formato redondo
obriga-o a inovar o tratamento plástico das suas criações.
Se através desses objectos
tradicionais há uma ligação com a matriz identitária na qual recorre
frequentemente para encontrar justificações das suas realizações, também é
verdade que em simultâneo esses referentes culturais são suportes estruturais
para recriar um diálogo capaz de revelar intencionalmente o caminho que
pretende construir. Entre a memória etnográfica e as vivências urbanas, o
artista experimenta imprimir novos significados, de sentimentos contraditórios
próprios do tempo actual em que as incertezas socioculturais, económicas e políticas
estão muito presentes.
Na Lilliput, talvez a mais
pequena galeria do mundo, situada num belo espaço a beira-rio na Vila franca de
Xira podemos visualizar o ambiente que tenha, talvez, inspirado o Valdemar
Dória a apresentar esta proposta plástica carregado também de significados
emocionais das suas vivências urbanas lisboetas e memórias de infância.
Sem comentários:
Enviar um comentário