A paisagem não é um elemento
isolado que funciona autonomamente. É a ligação entre diversos elementos que
compõem o espaço e formam um panorama que é visualizada por todos.
O seu conceito nos remete para o
entendimento visual, sensorial de um determinado local, pela qual percebemos os
seus elementos constituintes e deles usufruímos.
Então, se o espaço é a
paisagem, logo é neste que a vida é criada e toda a actividade humana e animal
se regista. É na superfície terrestre que as sociedades se formam e se
organizam por isso ao longo da história, muitos dos factos naturais e da
actividade humana deixam marcas de transformação sobre a terra, o que deixam as
respectivas marcas de mudança perceptíveis aos olhos humanos.
Assim, a paisagem
é um espaço dinâmico em função do tempo, quando procuramos perceber o seu amplo
conceito.
As paisagens podem ser
naturais, culturais, humanizadas ou artificiais. São artificiais quanto o
espaço natural é transformado pelo homem. As cidades, vilas, aldeamentos,
jardins ou propriedades agrícolas são alguns exemplos de transformação do
espaço natural em artificial que consequentemente modifica a paisagem natural.
Estas duas ilhas são autênticos
jardins botânicos sobre o oceano Atlântico equatorial!
São Tomé e Príncipe, com mais
de trinta e um milhões de anos, viram a sua geologia e a sua paisagem a se transformar
ao longo da sua história como território, mesmo depois da colonização até ao
presente momento. A presença humana e a influência dos agentes geológicos,
climáticos, geofísicos ou químicos são os responsáveis por essa transformação.
Falo da transformação natural da sua própria existência numa visão positiva do
ciclo e dinâmica natural.
Até, porque depois da
independência política em 1975, os seus ocupantes nunca souberam cuidar do
riquíssimo património natural em sua posse.
O paisagismo é uma área
técnica e científica que faz falta ao país. Se a natureza e a paisagem são
recursos potenciais que promovem o turismo como actividade sustentável para o
desenvolvimento do país, porque não reunir especialistas que trabalhem ao
alcance deste objectivo?
São Tomé e Príncipe são duas
ilhas do Golfo da Guiné com uma flora característica da região equatorial, com
um ecossistema sensível, muito arborizada que oferece ao observador uma ideia
de que a paisagem natural parece uma mata com uma beleza que só se pode ver nos
sonhos pela riqueza e variedade elementos que nela se encontram. Sendo um território
de geologia vulcânica rodeado de mar azul prateado, a sua costa é recortada por
pequenas praias de arreias com cores e características muito diversas que vão
do areal amarelo dourado, branco, preto vulcão.
Pensar nessas ilhas do
Equador, é pensar sempre nelas como uma pérola verdejante numa gama muito
grande de verdes que se aproximam ao azul quanto mais longe estiver dos nossos
olhos, que cabe nas nossas mãos.
Só se pode ter toda esta
beleza se soubermos estimar e cuidar dela.
A data em que se convencionou
comemorar o dia do património e dos sítios, 18 de Abril, eu sinto-me
particularmente triste relativamente a São Tomé e Príncipe.
Os santomenses não sabem
cuidar das suas ilhas. Talvez os habitantes da ilha do Príncipe seja excepção,
com o seu programa de desenvolvimento sustentável que mereceu o reconhecimento
do património natural da humanidade. Enquanto que os residentes da ilha de São
Tomé fazem precisamente o contrário: destroem a sua bela natureza com os
fundamentos de que são pobres economicamente. Este é um pensamento e uma atitude
infeliz.
Quase nada se tem feito até então com
visibilidade para a salvaguardo do que ainda existe.
Penso no
presente momento como é alarmante na ilha de São Tomé:
1 – A
extracção exagerada de inertes geológicos nas costas das ilhas e a má gestão
desses recursos ao longo dos últimos 25 anos que têm descaracterizado e
empobrecido a paisagem da orla marítima.
2 – O abate
indiscriminado das árvores seculares no interior do ôbô.
3 – A falta
de capacidade dos santomenses não travarem a degradação dos edifícios e infra-estruturas
das antigas roças coloniais, requalifica-las dando-as novas utilidades.
4 – Observando
as ilhas como um jardim, verificamos a falta de mais árvores de sombra na
cidade e a necessidade de se replantar mais coqueiros na marginal para renovar
as plantas e devolver à paisagem o verde cuidado que a nossa costa urbana muito
maltratada pelos seus homens.
Os
santomenses são filhos de escravos, mas também são filhos de patrões. Herdaram
na sua genética algo de bom dos seus antepassados, por isso acredito que eles
são capazes de alterar para melhor tudo o que têm feito de mal na paisagem.
Ainda há esperança
de serem salvas as ruinas se a floresta não se antecipar em apoderar do que
resta ou se as mãos humanas criminosas não destruírem o pouco que ainda resta
nas ilhas.
O nosso éden Atlântico um dia será um lugar
perfeito para satisfazer o orgulho santomense.